É
bom entender que a Reforma foi, em todos os aspectos, dirigida pelo Espírito
Santo. Isso podemos provar pela escolha do homem que será o protagonista
principal desse acontecimento.
🎯 Matinho Lutero
(1483-154.6)
Matinho
Lutero (1483-154.6) era filho de um mineiro e tinha uma boa formação. Esse
homem sofreu uma crise existencial, diversos acontecimentos, como a morte do
seu grande amigo e por ter escapado de um raio, o que o levou a uma grande
crise consigo mesmo. Ele procura encontrar a paz para a sua alma, razão pela
qual começa lendo obras como a de Bernardo. Aplicou a si mesmo as pesadas
regras de jejuns e orações, e logo foi buscar refúgio espiritual no Mosteiro
Agostiniano, em 1520.
Lutero
era um católico fiel, fazia tudo que a Igreja determinava, porém, a resposta
que queria para a sua indagação, como encontrar um Deus gracioso? Continuava de
modo pertinaz. Em crise consigo mesmo, com o seu coração, e sem encontrar
resposta para sua pergunta, esse homem buscou ajuda nos seus superiores, nos
sacramentos da Igreja, e entendia que tudo o que fazia tinha um fim em si
mesmo; podemos dizer que esse homem estava como Paulo, em uma total crise
existencial (Rm 7.4).
Nem
os sacramentos, nem seus superiores, nem a Igreja puderam dar a Lutero a
resposta que buscava: Como encontrar um Deus gracioso?
Na
verdade, parece uma pergunta simples, mas veja, Lutero já era um sacerdote e
teólogo desde 1512, mas por que então ele não pôde, com suas reflexões
teológicas encontrar a resposta? Porque conteúdos de livros ou qualquer outro
estudo não podem revelar profundamente as verdades divinas; destarte, as coisas
espirituais só se discernem espiritualmente (1 Co 2.14).
Jesus
chamou Pedro de bem-aventurado porque recebeu capacitação divina para dizer que
Ele era O Cristo, note que essa revelação não partiu da mente do apóstolo
Pedro, nem de seus argumentos lógicos, mas diretamente de Deus (Mt 16.17).
Em
se tratando de Lutero,
a compreensão que ele vai ter sobre a justificação vem diretamente do Espírito
Santo. Não temos dúvidas de que essa crise que Lutero sofreu foi algo
providencial de Deus, pois caso ele vivesse no comodismo, como outros do seu
tempo viviam, jamais iria levantar-se contra um poder tão forte da época.
No
que tange ao elemento espiritual, esse incômodo por querer saber sobre o Deus
gracioso, levou Lutero a ir direito às páginas do Evangelho. Lecionando na
Universidade de Wittenberg: Salmos, Gálatas, Romanos, Hebreus, o Espírito Santo
conduziu esse homem à resposta tão desejada, pois foi nas lenitivas páginas
dessas cartas que ele encontrou o Deus tão gracioso, mas não somente isso,
também sobre a obra maravilhosa da salvação que mitigou toda a sua crise
espiritual.
🎯 Lendo Romanos
1.17,
logo Lutero pôde entender como é que Deus revela sua justiça, e que ela não era
algo para ser temida. Lutero ficou maravilhado com esse assunto introduzido por
Paulo, por isso o aplicou ao seu estudo e logo chegou à essência da questão: A
justiça de Deus revelada no Evangelho é aquela justiça que Deus nos dá em
Cristo.
Entendendo
O que é realmente a justiça de Deus, e que a graça é a capacitação para se
viver a vida cristã, então Lutero tomou-se realmente um convertido, um homem
pronto para alçar a sua voz a favor da justiça presente no Evangelho. Sem que
isso acontecesse em sua vida, Lutero seria não mais que um sacerdote apenas
cheio de teorias, concepções, coadunando-se com o sistema da época, aderindo às
confortáveis vantagens religiosas.
Somente
homens espirituais, ou seja, transformados de fato pelo Evangelho é que podem
se levantar contra aquilo que contraria o Evangelho de Cristo. Paulo agiu
contra o judaísmo porque sabia que seu sistema era falido, mas se manifestou
favorável ao Evangelho por saber que Ele era o poder de Deus para a salvação
dos pecadores (Rm 1.6).
Lutero
não era nenhum um líder desordeiro, ele não buscou uma reforma porque tivesse
uma nova visão espiritual ou desgosto com a Igreja porque não conquistara
alguma posição. Na verdade, a reforma que ele estava propondo é que todos se
voltassem para o Evangelho, pois nele estava escrito que só a justiça que vem
de Deus é que pode salvar (Rm 5.1).
Ao
perceber o desvio do Evangelho, quando alguns estavam ensinando que uma alma
deixaria de sofrer no purgatório caso comprasse uma indulgência, que era a
remissão das penas ou o perdão, Lutero bateu de frente, pois sabia de fato o
que estava por trás de tudo, não somente a busca pelo perdão, mas era um
projeto que tinha como objetivo pagar a dívida do Arcebispo e financiar a construção
da basílica de São Pedro, e para tal fim estavam usando meios comprometedores,
contrariando o Evangelho de Jesus Cristo.
A
revolta de Lutero contra a venda de indulgência era enérgica, pois ele não
suportava ouvir João Tetzel, caminhando pelas ruas da Alemanha a dizer: “No
momento em que uma moeda bater no fundo da caixa, a alma solta-se do
purgatório”. Obviamente estava claro, para fins particulares, financeiros, a
verdade do Evangelho tinha sido adulterada pela Igreja, pois Lutero entendia
que o perdão dos pecados é somente através da justiça que vem de Cristo Jesus,
a qual é de graça e pela fé (Ef 2.8.9).
A
proposta de Lutero para a Reforma não partiu de uma decisão vinda do Papa, nem
de orientações ou estudos dados por um Concílio. Antes, sua autoridade para
iniciar uma reforma na igreja vem da Bíblia Sagrada, ela é superior à voz de
quem quer que seja, pois a Igreja deve ser dirigida por Ela.
💡 O ponto central
da reforma proposta por Lutero está no Evangelho, pois nele consta a
mensagem de salvação que o pecador precisa: a justificação pela fé. Lutero
desejava tão somente que a Igreja voltasse à doutrina certa, mas isso não
aconteceu, pois de imediato a Igreja o condenou e ele foi excomungado, e o
imperador Carlos V o condenou.
Enquanto
Lutero estava propondo uma reforma que não foi aceita, não demorou para que a
Igreja Ocidental se separasse. Nela a Palavra de Deus não tem vez, então a
divisão é certa. Podemos dizer que outros homens tentaram fazer essa reforma,
mas coube a Lutero esse privilégio da parte de Deus.
Portanto,
celebremos a Deus por ter levantado um homem que foi tocado pelo Evangelho a
fim de mostrar que a salvação não é por obras, mas, sim, pela fé em Cristo. A
reforma de Lutero não tinha nada a ver com divisão de igreja, busca por cargo,
poder, dinheiro, mas somente com a questão doutrinária. Quando alguém tenta
fazer reforma sem a ação do Espírito Santo o estrago é grande, mas quando tudo
é dirigido por Ele, então as coisas dão certo, por isso sempre é bom lembrar o
que disse o profeta Zacarias: “Não por força nem por violência, mas pelo meu
Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6).
Referência: GOMES,
Osiel. O Espírito Santo e a Reforma. Jornal Mensageiro da Paz, setembro de
2018.