A
arqueologia não tem como propósito “provar” a verdade das Escrituras, porque
esta revelação de Deus, por ser basicamente espiritual, deve ser avaliada
espiritualmente.

A
arqueologia não tem como propósito “provar” a verdade das Escrituras, porque
esta revelação de Deus, por ser basicamente espiritual, deve ser avaliada
espiritualmente (leia 1 Co 2.14). Todavia, nossa compreensão dessa revelação
como vinda de Deus e recebida por pessoas reais nos ajuda a ver que nossa fé
não é resultado de mitos, magia ou folclore, mas está arraigada profundamente
na História.
As
descobertas, algumas vezes, parecem ter influência direta sobre a Bíblia. Por
exemplo, em 1983, após três fases de trabalho no monte Ebal, na Palestina
Central, arqueólogos israelenses anunciaram a descoberta de uma estrutura
retangular feita de blocos de pedra, que fora provavelmente o altar de pedra
construído por Josué no monte Ebal (Js 8.30,31), seguindo as ordens de Moisés.
Ao redor de toda a estrutura havia cinzas e restos de ossos de ovelhas, sinais
de que o lugar era religiosamente importante. Os arqueólogos dataram os ossos
como sendo do século XII a.C.
Quando
a arqueologia nos ensina a respeito de algumas das grandes cidades mencionadas
nas Escrituras e a posição esplêndida ocupada por elas nos séculos passados,
começamos a ver como o tempo corre: pessoas viveram e morreram, governos
subiram e caíram até a época em que Cristo foi revelado Salvador da humanidade.
Aprendemos também que a Bíblia não mente no que diz respeito a esses famosos
sítios. Enquanto Jerusalém veio a ser conhecida na História como “cidade
santa”, porque o Templo de Deus se achava ali, outros lugares tornaram-se
notórios pela sua perversidade. Os judeus consideravam a orgulhosa Babilônia o
berço de toda maldade, e ela foi destruída pelo juízo divino, como predito pelo
profeta Isaías. A arqueologia mostrou também como Nínive, capital da Assíria,
lançou o terror entre os povos por causa da brutalidade dos exércitos assírios.
Mas ela caiu igualmente sob um poder mais forte, como profetizado por Naum. A
altiva Atenas, centro intelectual da Grécia na Antiguidade, era dedicada ao
serviço da deusa pagã Atena, e ruínas de seus templos podem ser vistas ainda
hoje. Corinto, cidade grega que tinha má reputação nos dias de Paulo, contém o
primeiro cemitério cristão conhecido, mostrando que a luz do Evangelho pôde
brilhar através das trevas do paganismo nesse lugar corrupto. Os arqueólogos
chegaram até a descobrir o local onde Paulo foi julgado por Gálio (At
18.12-17).
Enquanto
os especialistas nos ajudam a compreender a vida e os tempos antigos, muitas
das ruínas representam uma advertência severa quanto ao juízo divino sobre a
perversidade e desobediência humanas. Neste sentido, portanto, as pedras ainda
clamam como testemunhas da revelação de Deus mediante a Lei, os Profetas e
Jesus.
Escolhemos
nove sítios
Escolhemos
nove sítios para um breve estudo. Todos eles foram escavados até certo ponto e
eram importantes em sua época. Alguns deles já são bastante conhecidos através
dos registros da história antiga, assim como nas Escrituras, mas outros são
poucos familiares, por não serem mencionados na Bíblia e por ocorrerem apenas
ocasionalmente nos registros históricos antigos. Também inclusos estão alguns
sítios descobertos apenas por meio de escavações arqueológicas, mostrando que a
arqueologia de fato preenche o quadro da vida antiga, recuperando locais de
grande importância, que desapareceram da História. Os pontos familiares aqui
discutidos são: Atenas, Babilônia, Jerico, Jerusalém, Susã e Ur. Os menos
conhecidos são Biblos, Cunrã e Ras Shamra (Ugarite).
Leia Também: A Cidade
Bíblica de Ziclague

1) ATENAS
Esta
célebre cidade grega recebeu o nome de sua deusa protetora Atena e era um sítio
bastante antigo. A colina conhecida como Acrópole foi ocupada primeiramente,
talvez cerca de 6000 a.C. Porém, somente séculos mais tarde a cidade se tornou
famosa pela sua cultura e instituições democráticas. Atenas era a principal
cidade da Ática na Grécia antiga e alcançou o seu apogeu no século V a.C., com
Péricles. Filipe da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, fez dela um centro
renomado de filosofia. Atenas era uma movimentada cidade cosmopolita e os
templos na Acrópole constituíam maravilhas de engenharia e escultura. As
escavações em Atenas esforçaram-se para recapturar o seu esplendor do período
bíblico.
A
cidade foi visitada por Paulo em sua segunda viagem missionária. De especial
interesse é a Agora (mercado), que figurava proeminentemente nas atividades
comerciais e cívicas. Ela ficava a noroeste da Acrópole. Paulo passou algum
tempo nessa área, procurando converter os judeus e outros atenienses à fé em
Cristo (At 17.17). Pouco restou da Agora, exceto os alicerces dos prédios e o
pórtico (restaurado), uma construção estreita e comprida, com colunas de um
lado e um muro liso do outro. Era o lugar escolhido para palestras, conversas e
discussões filosóficas.
O
Areópago, onde Paulo se dirigiu à assembleia de filósofos (At 17.22-32), era
uma colina rochosa com cerca de 120 metros de altura, situada ao sul da Agora.
A Acrópole ficava a sudeste, bem próxima ao Areópago. Portanto, enquanto
criticava a superstição e a adoração nos templos feitos por mãos humanas, o
apóstolo podia ver o Panteão e os outros templos decorados com divindades
pagãs. O altar ao “deus desconhecido” era um dentre os muitos na Grécia. Um
altar recuperado em Pérgamo, em 1909, tinha a mesma inscrição. A sinagoga onde
Paulo pregou (At 17.17) não foi identificada, embora algumas sepulturas judias
tivessem sido descobertas em Atenas. O esforço de Paulo para apresentar a fé
como uma filosofia, lamentavelmente, só conseguiu uns poucos convertidos.
2) BABILÔNIA
Esta
cidade antiga, situada na planície de Sinear (Gn 11.2), era chamada Bab-ilu
(Portal de Deus). Uma cidade importante da Mesopotâmia. Seu nome foi mencionado
pela primeira vez em cerca de 2000 a.C. Era uma das mais antigas habitações
humanas, tendo sido aparentemente construída no sítio da torre de Babel (Gn
11.2-9) ou em suas cercanias. Famosa como a capital de Hamurabi (1792-1750
a.C.), perdeu o seu poder depois de 1300 a.C. A cidade ganhou nova proeminência
no reinado de Nabucodonosor II (605-562 a.C.), que passou quarenta anos
trabalhando para torná-la a mais esplêndida capital conhecida.
Escavações
no local descobriram o enorme muro exterior da cidade. Esta proteção tinha 26
metros de espessura e 106 de altura. O topo formava uma estrada sobre a quid
quatro carros podiam andar lado a lado para impedir os possíveis ataques à
cidade. Vinte e cinco lindas avenidas eram cortadas por 25 outras, dividindo a
cidade em quadrados. O palácio real era uma estrutura magnífica, cercada por um
muro triplo com enormes portões de bronze. Os Jardins Suspensos, feitos por
Nabucodonosor para a sua rainha meda, Amyitis, também ficavam nas proximidades.
Canais de irrigação e bombas levavam água para o centro da cidade, para os jardins,
pomares e parques que cobriam grande parte da Babilônia. Não é de admirar que
Nabucodonosor se gabasse do que havia realizado (Dn 4.30).
Os
hebreus capturados e deportados para a Babilônia (Jr 52.28-30) devem ter
ajudado a embelezar e ampliar a cidade, mas o seu esplendor não perduraria.
Isaías predisse a sua destruição (Is 13.19), Jeremias previu que ela seria
transformada em montões de ruínas (Jr 51.37) e Daniel afirmou que os medos e os
persas iriam conquistá-la (Dn 5.26-28). Esta profecia foi cumprida em 538 a.C.
Escavações
perto da grande porta de Istar revelaram uma série de tabletes escritos em
babilônio, listando as rações de azeite e cereais fornecidas aos cativos na
Babilônia entre 595 e 570 a.C. O rei Jeoaquim de Judá foi mencionado,
confirmando assim a historicidade do cativeiro como descrito em 2 Rs 24.15.
Livros
da Bíblia:
Gênesis, 2 Reis, Isaías, Jeremias, Daniel
3) BIBLOS
Conhecido
pelos antigos fenícios como Gebal, este porto marítimo ao norte de Beirute foi
pela primeira vez identificado e escavado em I860. O sítio foi ocupado quase
continuamente, desde 5000 a.C. até o período das Cruzadas. Os gregos, que
comerciavam nesta cidade, a conheciam como Biblos (“livro”) por ser o centro de
fabricação de papiros, e este nome deu origem à nossa palavra “Bíblia”. Nos
dias do Antigo Testamento, era um lugar importante para a religião cananéia,
tendo ficado famoso pelos seus artesãos, muitos dos quais foram empregados por
Salomão para construir o templo de Jerusalém (1 Rs 5.18).
Sendo
Gebal um porto, a cidade empregava carpinteiros e construtores de navios, que
fabricavam barcos para os comerciantes de Tiro (Ez 27.9). Em cerca de 1115
a.C., Gebal foi visitada por um embaixador egípcio, Wen-Amun, que fora enviado
a muitos lugares por Ramsés XII com o intuito de comprar cedro para um barco
cerimonial dedicado a um deus egípcio. As relações comerciais de Gebal eram
típicas da vida marítima da Palestina na época de Salomão, e o relato das
viagens e aventuras de Wen-Amun confirma isto.
Uma
descoberta interessante feita em 1925 por Montet foi o sarcófago de Airã, rei
de Gebal. Datado de 1250 a.C., o caixão, de pedra, é obra do filho do rei morto.
O rei é retratado nele, sentado num trono em forma de esfinge diante de uma
mesa preparada com ofertas sacrificiais. A tampa do sarcófago contém uma
inscrição gravada, identificando o rei, seu filho e a natureza do conteúdo.
Esta inscrição é importantíssima por ser um dos primeiros exemplos da escrita
fenícia antiga. Outras inscrições, tumbas, moedas e edifícios foram descobertos
no sítio de Biblos, sendo que alguns artefatos reportam a quase 3000 a.C.
Uma
nova escrita hieroglífica foi descoberta no ano de 1930, em Gebal, gravada no
cobre e também na pedra. São inscrições posteriores a 2200 a.C., mas não foram
até hoje decifradas. Sua descoberta demonstra como o povo da Palestina começou
cedo a colocar palavras na forma escrita.
Livros
da Bíblia:
/ Reis, Ezequiel
4) JERICÓ
Este
sítio palestino antigo foi ocupado pela primeira vez em cerca de 8000 a.C.,
passando a ser, dois mil anos mais tarde, uma impressionante cidade murada. Ela
foi importante na Antiguidade, por situar-se na interseção de duas importantes
estradas da época, contemplando do alto a passagem que subia da planície para
Jerusalém. Depois da vitória de Josué sobre Jericó (Js 6), a cidade foi
reconstruída como um povoado, mas só voltou a tornar-se importante nos dias do
Novo Testamento. Nesta elegante cidade, Jesus curou um cego (Lc 18.35-43) e
jantou com o próspero Zaqueu (Lc 19.1-10). Há três sítios no vale do Jordão
conhecidos como Jericó. A cidade do Antigo Testamento, Tell es-Sultan, fica a
cerca de 2,4 quilômetros a noroeste da cidade moderna (er-Riha), ao lado da
fonte de Eliseu (2 Rs 2.19-22), o único manancial perene na região. A Jericó do
Novo Testamento ficava situada cerca de um quilômetro e meio ao sul da sua
correspondente do Antigo Testamento.
Os
esforços de sir Charles Warren foram improdutivos em Tell es-Sultan, em 1868,
mas os arqueólogos Sellin e Watzinger (1907-09) obtiveram melhores resultados.
A escavação do morro de oito acres (1930-36) feita por Garstang, permitiu que
identificasse quatro cidades sucessivas de Jericó, datadas de cerca de 3000
a.C. Ele concluiu que Jericó havia caído diante de Josué em cerca de 1400 a.C.
Técnicas de escavação mais exatas, empregadas por Kathleen Kenyon, (1952-58)
modificaram radicalmente as conclusões de Garstang. Os muros da cidade, que ele
atribuíra ao final da Idade da Pedra (época de Josué), na verdade, pertenciam
aos princípios do Período do Bronze, mais de mil anos antes do período de
Josué.
Kenyon
não conseguiu recuperar quaisquer traços significativos da Jericó atacada por
Josué, devido à severa erosão no local, mas teve sucesso em traçar a história
ocupacional do morro, retrocedendo a cerca de 9000 a.C. Mil anos mais tarde,
Jericó era uma cidade cercada por um muro de pedras, onde havia pelo menos uma
enorme torre, para guardar o sítio de dez acres.
As
tumbas de meados do Período do Bronze (c. 1900-1550) preservaram uma notável
coleção de cerâmicas, adagas de metal, ornamentos, banquinhos de madeira,
mesas, camas, joias, escrínios de joias marchetados c camafeus egípcios. As
escavações em er-Riha expuseram a capital de inverno de Herodes, o
Grande, e Arquelau, com sua cidadela, pátios, vilas, palácio, edifícios
públicos e amplas residências particulares.
Livros
da Bíblia:
Josué, 2 Reis, Mateus, Lucas.
5) JERUSALÉM
Este
lugar pode ter sido fundado em cerca de 3000 a.C., na parte mais baixa da
cidade atual. Originalmente era uma fortaleza jebusita, que mais tarde se
tornou a capital de Davi, alojando o palácio real e depois o Templo. Jerusalém
foi o cenário de algumas das obras de Cristo e o lugar da sua morte e
ressurreição.
Este
sítio antigo é mencionado nos textos egípcios de Execração, do século XIX a.C.,
e nas lâminas de Amarna, do século XIV a.C., registros esses mantidos durante o
período em que os jebuseus controlaram Jerusalém. Os jebuseus construíram um
aqueduto subterrâneo, que retirava água do manancial de Giom e a levava para
dentro dos muros da cidade. O sistema foi aperfeiçoado por Ezequias (2 Rs
20.20; 2 Cr 32.3), que mandou fazer um túnel terminando no tanque de Siloé. Uma
inscrição hebraica do século VIII a.C. junto à entrada do tanque, descoberta em
1880, comemora este evento. Outro tanque, Betesda (Betsaida), também foi
localizado em Jerusalém debaixo da igreja de Sant’Ana. Em uma de suas paredes
pode-se ver a figura desbotada de um anjo agitando as águas (Jo 5.2-9).
A
investigação dos muros da cidade antiga tem apresentado problemas porque
Jerusalém foi se deslocando para o norte com o passar do tempo. Warren e Wilson
descobriram que os níveis mais baixos do muro, a oeste, eram herodianos, embora
alguns arqueólogos os considerassem obra de Neemias. Warren descobriu o muro de
Davi no monte Ofel e pôs à mostra partes das velhas fundações jebusitas. As
tentativas de encontrar o túmulo de Davi fracassaram, em grande parte devido à
destruição dos prédios na parte montanhosa a sudeste. Mas as ruínas de uma
torre maior foram descobertas nas proximidades, talvez a mencionada por Jesus
(Lc 13.4).
A
localização do Gólgota, em relação ao muro ocidental nos dias de Jesus, tem
sido muito debatida. Alguns afirmam que a moderna igreja do Santo Sepulcro
marca o lugar da crucificação e sepultamento de Cristo, outros apontam o sítio
junto à porta de Damasco, conhecida como túmulo do Jardim. O sepulcro na rocha
ali encontrado, data entre 100 a.C. e 100 d.C., podendo ter guardado o corpo de
Cristo.
Além
das camadas de entulho que se acumularam no decorrer dos séculos em Jerusalém,
os arqueólogos enfrentam outro problema em sua busca por sítios bíblicos
importantes: Jerusalém sempre foi habitada, e continua sendo hoje. Isto
significa que as escavações só podem ser feitas em sítios cuidadosamente
escolhidos, e estes não são, no geral, considerados os mais promissores. Não
obstante, descobertas valiosas continuam a ser feitas. Em 1983, estudantes da
faculdade de Wheaton, ao escavarem na base da igreja de Sto. André, ao sul do
vale do Hinom, recuperaram de um túmulo do século VII a.C. um amuleto de prata
com a inscrição YHWH em letras antigas, o nome divino do Senhor. Esta é a
primeira menção do nome de Deus já encontrada em Jerusalém.
Livros
da Bíblia:
2 Samuel, 1 e2 Reis, 2 Crônicas, Mateus, João, Hebreus.
6) CUNRÃ
Este
lugar, que ficava numa área deserta a cerca de 128 quilômetros de Jerico, foi
fundado cerca de 130 a.C. por um grupo religioso que se separara do judaísmo
contemporâneo. Seus escritos, os rolos do mar Morto, mostraram-se extremamente
importantes para o estudo dos períodos intertestamentário e cristão primitivo.
Em
1947, um jovem pastor beduíno estava procurando um animal perdido nas encostas
escarpadas do wadi Cunrã, a noroeste do mar Morto, quando encontrou vários
vasos cheios de rolos antigos de couro, junto com outros fragmentos de
manuscritos. Foram feitas tentativas de vender os rolos a um antiquário em
Belém, e em determinada época os rolos foram separados em dois grupos para
serem reunidos apenas muitos anos mais tarde. Enquanto isso, eruditos judeus e
americanos haviam descoberto que os manuscritos eram pelo menos mil anos mais
antigos que os primeiros manuscritos conhecidos da Bíblia hebraica.
Os
rolos formavam a biblioteca da comunidade de Cunrã. Pesquisas cuidadosas em 11
cavernas e outros lugares próximos ao sítio permitiram recuperar cerca de
quinhentos documentos, a maioria em fragmentos. Cerca de cem desses rolos são
livros do Antigo Testamento em hebraico, incluindo uma cópia de Isaías, que é o
mais antigo manuscrito de um livro completo do Antigo Testamento e talvez date
de 100 a.C. Os rolos bíblicos demonstraram a exatidão da transmissão dos textos
hebraicos já conhecidos.
Outros
rolos dão uma ideia da vida na comunidade de Cunrã. Eles incluem uma regra
comunitária, uma coleção de hinos, comentários bíblicos e outros escritos. Um
“rolo do templo”, adquirido pelos israelitas em 1967, confirma os ensinos
estritos dos elementos mais conservadores do farisaísmo. Um comentário sobre
Habacuque ilumina os objetivos da comunidade de Cunrã. O grupo pode ter surgido
em cerca de 200 a.C., como um protesto contra o judaísmo contemporâneo, e seus
membros se estabeleceram no deserto da Judéia para estudar a Escritura sob um
“mestre justo”. A comunidade se considerava o remanescente israelita fiel,
destinado a fazer os preparativos para o dia do Senhor, e seus membros
esperavam um profeta como Moisés (Dt 18.18), um Messias davídico e um sacerdote
aarônico. O Messias derrotaria os inimigos do remanescente, e o sacerdote
governaria o estado.
A
colônia de Cunrã foi escavada pela primeira vez em 1953. Os arqueólogos
descobriram os lugares onde a comunidade vivia, cisternas para rituais de
batismo, um sistema de aquedutos, o aposento onde os rolos foram escritos e um
cemitério.
7) RAS SHAMRA (UGARITE)
Ras
Shamra, uma colina de grandes proporções na costa síria, a cerca de quatrocentos
quilômetros ao sul da foz do rio Orontes, marca o sítio de um centro cultural
cananeu antigo, conhecido como Ugarite. A descoberta mais importante para os
arqueólogos bíblicos nesse local talvez tenha sido os escritos em ugarítico,
uma língua bem próxima do hebraico bíblico e essencial para o estudo do Antigo
Testamento.
A
cultura de Ugarite chegou ao seu apogeu no século XIV a.C., e depois declinou,
desaparecendo. Foi redescoberta em 1928, quando um lavrador sírio bateu na
parte superior de uma rica tumba enquanto arava. O pequeno morro foi então
escavado sistematicamente, sendo retirados dele objetos de ouro, uma
surpreendente variedade de cerâmica grega, um conjunto de pesos e várias
imagens de bronze. Algumas ferramentas e armas de bronze foram recuperadas em
excelentes condições.
A
descoberta da linguagem ugarítica surgiu quando os arqueólogos encontraram
muitos tabletes de argila contendo sinais estranhos: escrita cuneiforme de
caráter alfabético em vez de silábico. Quando decifrados, os tabletes mostraram
uma relação linguística aproximada com o idioma fenício e o hebraico bíblico,
indicando também que o povo de Ugarite fazia uso da escrita alfabética muito
antes dos fenícios, que provavelmente herdaram a ideia.
A
linguagem ugarítica contém formas literárias que também ocorrem na poesia
hebraica. O estudo e a comparação ajudaram a esclarecer várias passagens
hebraicas difíceis. Expressões como “aquele que vai montado sobre o céu dos
céus” (SI 68.33) são consideradas de origem cananéia, indicando que o ugarítico
e o hebraico do Antigo Testamento são dialetos de alguma forma parecidos.
Os
escritos recuperados revelaram que cerimônias similares às dos hebreus eram
observadas em Ugarite: ofertas movidas (Êx 29.24), sacrifício pelo sacrilégio
(Lv. 5.15), sacrifício queimado (Lv. 6.15), sacrifício pacífico (Lv 22.21), tributo
ou manjares (Êx 29.41). Embora seja esclarecedor comparar referências similares
nos registros escritos das duas culturas, as linguagens não são idênticas e não
podemos, portanto, equiparar automaticamente os termos ou referências. Por
exemplo, a legislação em Êxodo 23.19, proibindo que um cabrito fosse cozido no
leite da mãe, possui o mesmo significado de um certo tipo de oferta registrada
nos textos ugaríticos. Existem dúvidas a respeito deste fato, uma vez que a
palavra traduzida como “cozinhar” significa realmente “matar” e também porque
encontramos vários problemas com o texto.
Os
tabletes de Ugarite registram as formas depravadas e lascivas da adoração
ritual dos cananeus, mostrando a ameaça que essas práticas representavam para a
fé hebraica tradicional e indicando que a condenação dessa religião no antigo
Testamento era justificada.
Livros
da Bíblia:
Êxodo, Levítico, Deuteronômio, 1 e 2 Reis, Isaías, Jeremias.
8) SUSÃ
Esta
cidade antiga, representada agora por quatro pequenos montes a sudoeste do Irã,
é o lugar onde ocorreram os eventos descritos no livro de Ester. Além disso,
Neemias e possivelmente Daniel residiram em Susã durante parte de suas vidas.
Situada
em local aprazível na antiga Pérsia, a cerca de 3.200 quilômetros a leste da
Babilônia, Susã era a capital de inverno dos reis elamitas desde 2200 a.C. Sua
prosperidade começou em 538 a.C., quando Ciro a tornou uma das cidades mais
ricas do Leste. Dario I (521-485 a.C.) estendeu o império persa desde o Nilo
até o Indo, e o esplendor do período se reflete ainda hoje nas ruínas do seu
palácio e na sala do trono.
Daniel,
juntamente com outros judeus da Babilônia, pode ter sido levado para Susã
depois de 538 a.C. (Dn 8.2), sendo possível que seu encontro com os leões
ocorresse ali. Segundo a tradição local, ele morreu e foi sepultado em Susã.
Conforme relatado no livro de Ester, o rei Xerxes I da Pérsia (485-465 a.C.)
baniu da sua presença a esposa, Vasti, no começo de seu reinado em Susã e
casou-se depois com Ester, uma judia atraente e engenhosa que conseguiu livrar
o seu povo da perseguição (Et 8-9). Neemias, alto funcionário da realeza em
Susã, foi nomeado governador civil da Judéia em 445 a.C. por Artaxerxes I
(464-423 a.C.) e ajudou a promover a estabilidade para os judeus que voltaram
do exílio à região de Jerusalém (Ne 2-7).
Escavações
iniciadas em 1851 revelaram que a cidade cobria quase cinco mil acres e estava
dividida em quatro partes: o monte da cidadela, a área do palácio, o distrito
comercial e residencial e a planície a oeste do rio. O palácio cobria 123 acres
e abrangia a sala do trono, a residência real e o domicílio do harém. Havia
inúmeros pátios, jardins, escadarias e passagens em arco, como descritos no
livro de Ester. Um cubo gravado com números foi recuperado das ruínas e ficou
provado tratar-se de um “pur” ou sortes, tendo sido esta a origem da
festa judia chamada Purim (Et 9.26). O escritor de Ester conhecia muito bem a
corte persa, e o livro apresenta um relato autêntico desse período.
Livros
da Bíblia:
Daniel, Neemias, Ester.
9) Ur
Esta
cidade era o centro de uma brilhante cultura pagã ao sul da Mesopotâmia.
Provavelmente fundada em cerca de 2800 a.C., já vivia o seu apogeu nos dias de
Abraão (talvez por volta de 1980 a.C.). Exercia enorme influência social,
religiosa e comercial na região mesopotâmica e além dela. Não obstante, Abrão e
Tera estavam preparados para deixá-la, em obediência às instruções divinas (Gn
11.31; 12.1; 15.7). Alguns anos depois de Abraão partir, a cidade foi saqueada
por assaltantes elamitas e ficou perdida para a História durante muitos
séculos.
Tudo
que resta de Ur é um monte de 250 acres. Escavações feitas por Woolley (1922-34)
no sítio (Tell Mugheir) revelaram a grandeza da antiga cidade, corno nos
lugares de sepultamento de duas pessoas importantes, possivelmente um rei e sua
mulher. Os servidores foram enterrados com eles, vestidos cerimonialmente para
a ocasião. Junto dos corpos havia um magnífico capacete de ouro, uma harpa
esplêndida decorada com mosaicos, artigos de ouro e prata trabalhados e outros
belíssimos objetos do período.
Woolley
escavou também partes do distrito comercial de Ur e as ruas que levavam a uma área
residencial. As casas eram de dois andares, com estrutura de tijolos e
argamassa, construídas ao redor dos três lados de um pátio pavimentado.
Continham cerca de 12 quartos com toaletes e banheiras embutidas, lareiras e
fontes. Edifícios de escolas em ruínas continham tabletes inscritos com
exercícios para os alunos: aritmética, literatura e outras matérias. Pequenas
capelas foram encontradas em toda a região de Ur, algumas delas em residências
particulares. O enorme zigurate (templo em camadas) de Nana, a deusa-lua,
sobrepunha-se a todos os outros prédios da cidade.
Enterrada
bem fundo no monte, Woolley descobriu uma camada de 2,5 metros de argila
depositada pela água, que atribuiu ao dilúvio de Noé, mas que pode ter
representado o leito original do rio. Traços de depósitos de uma enchente em
outros sítios da Mesopotâmia tinham uma data um pouco diferente daquela do
estrato de Ur, fixada por Woolley, tornando-se difícil confirmar suas
afirmações e impossível usar suas descobertas para saber se o dilúvio de Noé
foi local ou global.