Efésios 2 sugere que a fé salvífica é um dom [...] Sendo assim,
então a salvação alcança apenas àqueles a quem Deus der o dom, e nesse caso
estaria certa a tese de que a salvação é limitada a um grupo de predestinados?
Quando Paulo se refere
à salvação pela graça (“pela graça sois salvos”), quer dizer que a
possibilidade de ser salvo foi criada por Deus, e é uma ação única e exclusiva
de Deus em favor dos homens, por isso é graça. Deus deliberadamente decide
salvar o ser humano, através da obra de Cristo, “por meio da fé”.
Paulo a coloca como a
confiança na ideia de que por meio dela o homem alcança a salvação. Portanto, a
confiança na salvação (criada por Deus) é de responsabilidade humana e é a
condição para a salvação.
“É dom de Deus” como
sendo dádiva, não é algo que está no ser humano, mas sim algo que está em Deus,
é parte da natureza de Deus, é uma forma de expressão do seu ser, é a
materialização de um imenso amor. Logo, considerando que Deus é amor, a
possibilidade e a efetivação da salvação podem ser entendidas como ações dEle.
A possibilidade de
salvação foi dada por Deus e o ser humano tem acesso a mesma por meio da fé.
Não é a salvação que traz a fé, mas sim a fé-confiança é que torna a salvação
efetiva, nos possibilitando acessar essa salvação disponibilizada por Deus. A
fé não é o resultado da salvação, mas, antes é o meio pelo qual somos salvos
pela graça de Deus.
Em Efésios 2
o
uso dos termos “dom de Deus”, não está se referindo ao dom enquanto capacidade
que Deus, através do seu Espírito, confere aos cristãos para a melhor
realização da sua obra, mas no sentido de que é parte da natureza de Deus criar
a possibilidade de salvação para o ser humano, conforme podemos observar em
toda a Bíblia, concretizado particularmente na pessoa de Jesus.
Portanto a alternativa
de encontrar similaridades entre o dom de cura ou de falar em línguas e a
salvação enquanto “dom de Deus” para justificar a crença na perspectiva
reformada de predestinação deve ser descartada, pois são dons diferentes quanto
a sua abrangência.
O “dom de Deus”
deve
ser entendido como dádiva-presente ou capacidade de criar meios de salvação,
então essa possibilidade não é fruto de nenhuma ação humana, é dádiva e ao
mesmo tempo dom, porque só Deus tem essa capacidade de criar possibilidades de
salvação para a humanidade, possibilidades essas que se encerraram em Cristo.
Cristo é a expressão
máxima do dom salvífico. Nesse sentindo a salvação está disponível a toda
humanidade e não a um grupo seleto, basta ter fé, confiar (crer) na salvação em
Jesus Cristo.
A graça preveniente (Rm
5.18) estendida a todos os seres humanos
lhes abre a oportunidade de, pela fé, crerem no evangelho, isto descarta a
possibilidade de a eleição ser uma ação fatalista de Deus, destinada apenas a
alguns indivíduos, enquanto os demais se perderão no inferno por uma escolha
divina. Se isto fosse verdade Deus seria muito cruel e atestaria contra seu
amor. Por isso, ele dá a oportunidade para que todos se salvem (At 17.30),
indistintamente, porque Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34). Assim, a fé
é a resposta humana, ante o agir salvífico de Deus em seu favor.
A responsabilidade é
decorrente da ação da graça preveniente, conforme Armínio, é essa graça que
promove a fé e inicia a salvação.