A carta de Paulo aos Filipenses é uma das mais belas desse apóstolo. Esta epístola está repleta de ternura, gratidão e afeição. Filipenses nos apresenta um diário íntimo das próprias experiências do apóstolo. Ela foi escrita em circunstâncias difíceis, enquanto o grande defensor da fé era prisioneiro.
A
nota dominante em toda a carta é a alegria triunfante. Paulo, embora fosse um
prisioneiro, era muito feliz e incentivava seus leitores para sempre se
regozijarem em Cristo. A alegria apresentada em Filipenses envolve uma ardente
expectativa da iminente volta de Jesus. Isso pode ser observado quando ele faz
cinco referências à volta de Cristo, e em cada referência há uma nota de
alegria (Fp 1.6,10; 2.16; 3.20; 4.5).
Quando Paulo escreveu esta carta, ele tinha dois propósitos: agradecer à igreja de Filipos por sua generosidade. Essa é uma carta de gratidão pelo envolvimento desta igreja com o veterano apóstolo em suas necessidades. Essa igreja foi a única que se associou a Paulo desde o início do seu ministério para sustentá-lo (Fp 4.15).
Enquanto Paulo esteve em Tessalônica, eles enviaram sustento para
ele duas vezes (Fp 4.16). Em Corinto, a igreja de Filipos o socorreu
financeiramente (2 Co 11.8,9). Quando Paulo foi para Jerusalém depois de sua
terceira viagem missionária, a igreja levantou ofertas generosas e sacrificiais
para atender aos pobres da Judeia (2 Co 8.1-5). E quando Paulo esteve preso em
Roma, a igreja de Filipos enviou Epafrodito com donativos para prestar-lhe
assistência na prisão (Fp 4.18). E o segundo propósito desta carta era alertar
a igreja de Filipos acerca de sérios problemas: um interno e outro externo.
Um
deles era a quebra da comunhão. A desunião dos crentes era um pecado que atacava
o coração da igreja. Esta era uma arma destruidora que estava roubando a sua
eficácia diante do mundo. A igreja filipense sofria com problemas de presunção
(Fp 2.3), que induziam ao egoísmo (Fp 2.4), quebrando a koinonia, o
espírito de boa vontade para com a comunidade.
Isso
gerava pequenas disputas (Fp 4.2) e espírito de reclamação (Fp 2.14). Havia um
espírito individualista e elitista em alguns membros da igreja de Filipos que
colocava em risco a harmonia na igreja. Até mesmo duas irmãs estavam em desacordo
dentro dela (Fp 4.2). O segundo problema era a heresia doutrinária. A igreja
estava sob ataque também do perigo dos falsos mestres (Fp 3.2). O judaísmo e o
perfeccionismo investiam contra a igreja. Paulo os chama de adversários (Fp
1.28), inimigos da cruz de Cristo (Fp 3.17).
O
estudioso Ralph Martin diz que os mestres discutidos em Filipenses 3.12-14 eram
judeus. Eles se vangloriavam da circuncisão (Fp 3.2), ou seja, da “carne”,
cortada na execução do rito; enquanto Paulo se gloriava apenas em Cristo. A
justiça deles era baseada na lei (Fp 3.9); a confiança de Paulo descansa na
dádiva de Deus.
Quero
agora tratar de um personagem esquecido, de quem talvez você nunca tenha ouvido
nada. Paulo, no capítulo 2 da carta aos Filipenses, mostra-nos que o próprio
Pai exaltou a Cristo sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo o
nome (Fp 2.9-11). Se a ênfase do capítulo 1 de Filipenses é Cristo primeiro, a
ênfase do capítulo 2 é o outro na frente do eu. Neste capítulo, Paulo dá quatro
exemplos de abnegação. Ele menciona o exemplo de Cristo (Fp 2.5-11), o seu
próprio exemplo (Fp 2.17,18), o de Timóteo (Fp 2.19-24) e o de Epafrodito (Fp
2.25-30). Aqui trataremos de Epafrodito cujo significado é: “gracioso”,
“amável”, “generoso”.
Esse
valoroso obreiro é citado na carta aos Filipenses apenas neste trecho (Fp
2.25-30) e em Filipenses 4.18, mas isso já é suficiente para compreendermos seu
profundo amor por Jesus e pela Igreja. A vida de Epafrodito refletia seu nome.
Ele era um homem pronto a servir, mesmo correndo grandes riscos. Ele foi o
portador da oferta da igreja de Filipos a Paulo e o portador da carta deste
àquela igreja. Epafrodito viajou de Filipos a Roma para levar uma oferta da
igreja ao apóstolo (Fp 2.30; 4.18) e também assistir o apóstolo na prisão (Fp
2.25). Paulo o chama de irmão, cooperador e companheiro nos combates.
Epafrodito era um com Paulo em afeto, em atividade e em perigo.
Paulo diz que Epafrodito era um irmão (Fp 2.25). Se estamos em
Cristo, há um elo de amor fraternal que nos une uns aos outros. Quanta desunião
há no meio do povo de Deus. Quantas divisões e contendas, brigas por poder,
discussões tolas, reuniões que, em vez de aproximarem os irmãos, acabam por
afastá-los da comunhão com Cristo e a igreja.
Paulo diz que Epafrodito era um irmão. Mas ele era também um
cooperador (Fp 2.25). Ele
era um trabalhador na obra de Cristo e um cooperador de Paulo. A palavra grega
que Paulo usa aqui é synergos, denotando que Paulo e Epafrodito estão no
mesmo serviço do Reino de Deus. Onde estão os cooperadores do Reino de Deus?
Onde estão os “Epafroditos”?
Ele era também um companheiro nos combates (Fp 2.25). Warren Wiersbe
disse: “A vida cristã não é uma colônia de férias, mas um campo de batalha”.
Epafrodito estava no meio desse campo de batalhas com o apóstolo Paulo. A ideia
do original é que eles são “companheiros no conflito’’ na guerra contra o mal.
Não lutamos contra pessoas. Nossa guerra é contra Satanás, o príncipe deste
mundo.
Vemos que Epafrodito era um homem pronto a servir à igreja de Cristo
(veja Fp 2.25). Em
relação ao seu serviço à igreja, Paulo o descreve de duas maneiras: Ele é um
mensageiro da igreja (veja Fp 2.25). A palavra grega que Paulo usa é apóstolos.
Aqui, a palavra “apóstolo” tem o sentido de “aquele que é enviado com um
recado”. A missão de Epafrodito não era apenas trazer a Paulo a oferta da
igreja filipense, mas também a de servir a Paulo de qualquer forma que fosse
requerida. Portanto, Epafrodito fora enviado tanto para levar a oferta quanto
para ser uma oferta a Paulo. Ele é um auxiliar da igreja para ajudar Paulo (Fp
2.25).
A
palavra grega usada por Paulo é leitourgos, de onde vem a nossa palavra
“liturgia”, que significa serviço ou culto sagrado. A ideia do apóstolo é que o
cristão é um sacerdote que ministra um culto a Deus enquanto atende às
necessidades dos outros. Epafrodito fazia do seu serviço prestado à igreja uma
liturgia e um culto a Deus. Porém, mesmo fazendo a obra de Deus, ficou doente
(Fp 2.27). Em Roma, Epafrodito caiu enfermo, possivelmente vítima da conhecida
febre romana que às vezes varria a cidade como uma epidemia e um açoite. A
enfermidade o havia levado à beira da morte. Como os adeptos da teologia da
prosperidade explicam este texto? Epafrodito estava fazendo a vontade de Deus, era
dirigido por Ele, estava ao lado do maior apóstolo que o mundo conheceu, e por
que mesmo assim ele ficou doente? Paulo não disse que ele ficou doente porque
isso foi um ataque de Satanás, nem mesmo que ele tinha uma fé trôpega, nem
ainda que estava em pecado. Epafrodito, mesmo fazendo a obra de Deus, adoeceu a
ponto de chegar perto da morte (Fp 2.27).
Ele não apenas adoeceu, mas adoeceu para morrer. Sua enfermidade foi algo gravíssimo. Ser cristão não é viver em uma redoma de vidro blindada em que nada nos atingirá. Muitos irmãos nossos partiram cancerosos, cegos, surdos; e isto não os tornou derrotados. Pelo contrário, mesmo em meio à mais alta dor e sofrimento, continuaram servindo ao Senhor!
Epafrodito foi um homem curado pela intervenção soberana de Deus (Fp
2.27). A
sua cura foi um ato da misericórdia divina. Não há aqui qualquer palavra de
Paulo acerca da cura pela fé. O apóstolo simplesmente afirma que Deus teve
misericórdia dele e de Epafrodito. Em última instância, toda cura é divina
(S1103.3).
Este cooperador de Paulo foi um homem de qualidades superlativas. Ele chegou a ponto de dispor a sua vida pela obra de Cristo (Fp 2.30). A viagem de Filipos a Roma era uma jornada longa e árdua, de mais de mil quilômetros. Associar-se a um homem acusado, preso e na iminência de ser condenado, constituía para Epafrodito um risco sério. Entretanto, ele se dispôs a enfrentar todas essas dificuldades pela obra de Cristo e em favor da assistência material e espiritual a Paulo na prisão.
A
palavra grega que Paulo usa no versículo 30 de Filipenses 2 para: se dispôs a
dar a própria vida (ARA) é paraboleusamenos. Essa palavra se aplica ao
jogador que arrisca, que aposta tudo em um lance de dados. O estudioso do Novo
Testamento, Dr. William Barclay, explica que Paulo está dizendo que Epafrodito
jogou sua própria vida pela causa de Jesus Cristo, arriscando sua vida a ponto
de chegar perto da morte.
William Barclay amplia esta ideia quando diz:
Nos
dias da igreja primitiva, existia uma associação de homens e mulheres chamados parabolani:
os jogadores. Tinham como propósito e objetivo visitar os prisioneiros e
enfermos, particularmente os que estavam prostrados por uma enfermidade
perigosa e infecciosa. Em 252 d.C., explodiu uma peste em Cartago; os pagãos
lançavam seus corpos nas ruas e fugiam aterrorizados. O bispo cristão Cipriano
reuniu seus fiéis em uma assembleia e os encorajou a enterrar os mortos e
cuidar dos enfermos na cidade açoitada pela praga. Agindo dessa maneira,
arriscando a própria vida, eles salvaram a cidade da destruição e da desolação.
Referência: PEREIRA,
Josivaldo de França; OLIVEIRA, Marcelo de. Personagens esquecidas da Bíblia. 1ª
edição, 2013 – Central Gospel