Daniel, cujo nome significa “Deus é meu juiz”, é
tanto o personagem principal como o autor do livro que leva o seu nome. A
autoria de Daniel não somente é declarada explicitamente em 12.4 como também é
subentendida pelas numerosas referências autobiográficas nos caps. 7—12. Jesus
atribui o livro ao “profeta Daniel” (Mt 24.15), quando cita Dn 9.27.
1. EVENTOS HISTÓRICOS NO LIVRO DE DANIEL
O livro de Daniel abrange o período entre 605 e
535 a.C., aproximadamente. Dn 1–6 narra eventos e histórias que demonstram a
fidelidade de Deus a Daniel e seus amigos, à medida que eles permaneciam fiéis
a Deus e à sua lei. Essas histórias são apresentadas em ordem aproximadamente
cronológica.
O livro relata eventos a partir da primeira
invasão de Jerusalém por Nabucodonosor (605 a.C.) até ao terceiro ano de Ciro
(536 a.C.) (10.1).
O contexto histórico do livro está vinculado a Babilônia,
durante o cativeiro babilônico de Judá de setenta anos de duração profetizado
por Jeremias (cf. Jr 25.11). Daniel era certamente adolescente por ocasião dos
eventos do cap. 1, e octogenário, quando teve as visões dos caps. 9—12.
Supõe-se que ele viveu até cerca de 530 a.C.,
quando teria concluído o livro na última década de sua vida (cf. João e o livro
de Apocalipse). Os críticos modernos que consideram o livro de Daniel como
espúrio, e do século II a.C., orientam-se pelo seu próprio raciocínio
filosófico desvirtuado, e não pelos fatos reais.
Quase toda informação que se tem do profeta Daniel
procede deste livro (cf. Ez 14.14,20). Possivelmente Daniel era descendente do
rei Ezequias (cf. 2 Rs 20.17,18; Is 39.6,7). Ele era de família culta, da
classe alta de Jerusalém (1.3-6), porquanto Nabucodonosor não escolheria jovens
estrangeiros de classe inferior para sua corte real (Dn 1.4,17). O êxito de
Daniel em Babilônia atribui-se à sua integridade de caráter, aos seus dons
proféticos e às intervenções de Deus que resultaram no seu acesso rápido a
posições de destaque e de responsabilidade na corte (Dn 2.46-49; 6.1-3)
🔍 Veja também: Daniel
ora por um despertamento
2. AUTOR E DATA
Cronologicamente, Daniel é um dos últimos profetas
do AT. Somente Ageu, Zacarias e Malaquias vêm depois dele na sequência do
ministério profético do AT. Foi contemporâneo de Jeremias, porém, mais jovem
que este. Tinha provavelmente a mesma idade de Ezequiel.
Os estudiosos debatem incessantemente a data em
que o livro de Daniel obteve a sua forma final. Os acadêmicos mais
conservadores afirmam que Daniel escreveu o livro no fim dos anos 500 a.C. O
livro afirma ser profecia preditiva (Dn 2.29-31; 4.24; 7.1–12.13), e o autor
coloca Daniel nos anos 500 (Dn 2.1; 5.1; 10.1). O livro exibe excelente
conhecimento da história da Babilônia, embora algumas questões históricas
precisem ser resolvidas.
Outros estudiosos afirmam que a data do livro deve
ser, aproximadamente, 164 a.C., principalmente porque Daniel descreve eventos
dessa época – acredita-se que as predições de
Dn 11.1-35 são descrições detalhadas demais a respeito de eventos ocorridos entre
190 e 164 a.C. para terem sido feitas 300 anos antes. Há problemas, no entanto,
para atribuir uma data posterior para o livro. Acima de tudo, o livro, em sua
forma atual, é claramente atribuído apenas a Daniel. Uma das principais
declarações de Daniel é a de que Deus pode predizer o futuro (Dn 2.27-29;
10.21).
Se o próprio Daniel não escreveu as profecias
preditivas, então as declarações do livro não têm a integridade exigida de um
dos mais inspirados profetas de Deus. Sem negar os notáveis detalhes, a questão
da predição não é conclusiva: Quem pode dizer com que detalhes Deus pode
revelar o futuro aos seus profetas? As visões de Daniel também têm
características de literatura apocalíptica, e são modelos para muitos apocalipses
posteriores.
A literatura apocalíptica era especialmente
popular entre os textos judaicos do período intertestamentário (depois de 400
a.C.), e por isso acredita-se que o livro não poderia ter sido escrito antes
desse período. No entanto, estudos recentes afirmam que a mentalidade
apocalíptica está presente em livros bíblicos também do período do exílio.
Portanto, é possível pensar que Daniel tenha servido de modelo para os
apocalipses posteriores.
Considerar o livro de Daniel como tendo sido escrito
nos anos 500 a.C., por Daniel, é menos problemático que datá-lo em uma ocasião
posterior, para evitar a sugestão de que ele contém profecia preditiva
detalhada.
3. SÍNTESE DO LIVRO DE DANIEL
✍️Em Dn 7–12, o foco passa à soberania de Deus sobre o curso da
história.
✍️Como em Dn
1–6, as visões destes
capítulos estão em ordem aproximadamente cronológica.
✍️Dn 7 usa simbolismo animal para narrar a mesma história encontrada em Dn 2: A história do mundo culminará no estabelecimento do reino de Deus, mas antes disso haverá violenta oposição a Deus e seus propósitos.
✍️O capítulo 8 destaca os papéis da Pérsia e da Grécia,
culminando nos atos de um ímpio governante que se oporá ao povo de Deus.
✍️O capítulo 9 apresenta a maravilhosa oração de Daniel, que é
inspirada pela profecia de Jeremias, a respeito de setenta anos de servidão (Dn
9.1-2).
A oração tocou o coração de Deus e ajudou a acabar
com o exílio. Como resultado da oração, o anjo Gabriel é enviado a Daniel para
revelar os setenta conjuntos de sete que viriam, uma visão geral do plano de
Deus para estabelecer o seu povo e lidar com os seus opressores.
✍️Em Dn 10–12, o livro termina, com uma visão final, que retrata
a história desde o terceiro ano de Ciro (536 a.C.), até o período de Grécia e Roma,
e até a ocasião da ressurreição. Daniel foi fiel ao seu chamado, e será
ressuscitado no final.
4. O LIVRO DANIEL COMO LITERATURA
Daniel contém história, mas contém muito mais. O
livro ensina lições teológicas de história, indo além dos eventos terrenos,
para exibir e demonstrar o seu verdadeiro significado e importância. O livro
pretende, principalmente, mostrar a mão de Deus e o seu plano, pela maneira
como narra os seus eventos.
📝 Daniel como Literatura de Sabedoria.
Daniel é um livro de sabedoria, que tem a
finalidade de tornar o povo de Deus sábio nos caminhos de Deus. A pessoa sábia
é purificada pelo sofrimento, busca o caminho da justiça e conduz outras por
esse caminho (Dn 11.33-35; 12.3). A pessoa sábia entende que o Deus Altíssimo é
o Deus dos deuses, que Ele tem o futuro em suas mãos, e que Ele pode resgatar o
seu povo de qualquer perigo (Dn 3.16-18; 6.21-22; 12.1-3).
📝 Daniel como Literatura Apocalíptica.
Certas partes de Daniel pertencem ao gênero
literário chamado apocalíptico (“revelação, desvendar o que está oculto”). Este
gênero abre a cortina da história terrestre e revela a atividade de Deus, dos
anjos, e outras forças espirituais nos bastidores. Essas atividades afetam
eventos históricos na terra.
A literatura apocalíptica revela a realidade,
frequentemente com o uso de linguagem simbólica, de modo que estátuas, animais
ou chifres podem representar coisas como reis, reinos e pessoas.
É importante interpretar a literatura apocalíptica
segundo o que tenciona a sua comparação. Qual é a realidade e a verdade por
trás da comparação?
O contexto literário e os antecedentes históricos
de uma passagem devem ser examinados para interpretar, apropriadamente, o seu
simbolismo. Às vezes, as noções necessárias para interpretar a comparação são
encontradas no texto (Dn 7.1-14,16-17,23-25).
Em outros casos, um estudo do ambiente social,
político, militar ou cultural resultará em conhecimentos úteis. Por exemplo, o
estudo da história da Babilônia pode ser útil para entender por que determinada
imagem para a Babilônia (uma cabeça de ouro ou um leão) é adequada. Indo além
dos eventos terrenos para demonstrar o seu verdadeiro significado, o livro de
Daniel ensina lições teológicas.
A antiga versão de Daniel em grego e a Vulgata
Latina incluem três passagens que não são encontradas nos manuscritos
hebraicos. Essas passagens estão incluídas nas edições católica romana e
ortodoxa, mas não nas edições protestantes.
4. O LIVRO DE DANIEL ANTE O NOVO TESTAMENTO
A influência de Daniel no NT vai muito além das
cinco ou seis vezes que o livro é citado diretamente. Muito da história e da
profecia de Daniel reaparece nos trechos proféticos dos Evangelhos, das
Epístolas e do Apocalipse.
A profecia de Daniel a respeito do Messias
vindouro contém uma descrição dEle como
(1) a “grande pedra” que esmagaria os reinos do
mundo (Dn 2.34,35,45);
(2) o Filho do homem, a quem o Ancião de dias
daria o domínio, a glória e o reino (Dn 7.13,14); e
(3) “o Messias, o Príncipe” que viria e seria
tirado (Dn 9.25,26). Alguns intérpretes creem que a visão de Daniel, em 10.5-9,
trata-se de uma aparição do Cristo pré-encarnado (cf. Ap 1.12-16).
Daniel contém numerosos temas proféticos
plenamente desenvolvidos no NT: e.g., a grande tribulação e o anticristo, a
segunda vinda de nosso Senhor, o triunfo do reino de Deus, a ressurreição dos
justos e dos ímpios e o Juízo Final.
As vidas de Daniel e dos seus três amigos
evidenciam o ensino neotestamentário da separação pessoal do pecado e do mundo,
ou seja, viver no mundo incrédulo sem, porém, participar do seu espírito e dos
seus modos (Dn 1.8; 3.12; 6.18; cf. Jo 7.6,15,16,18; 2 Co 6.14—7.1).
•Adaptação: www.cristaoalerta.com.br
•Referências:
- Bíblia
the Way – o caminho – CPAD
-
Bíblia de Estudo Pentecostal - CPAD