Introdução ao Estudo da Bíblia

A palavra "Bíblia" designa as Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos reconhecidas e empregadas pelas igrejas cristãs. O judaísmo reconhece apenas as Escrituras do AT. Outras religiões, tais como o budismo, o hinduísmo, o zoroastrismo e o islamismo têm seus escritos sagrados.

Mas só existe uma Bíblia — incomparável, singular em relação a todas as outras literaturas "sagradas", porque:
(1) é a revelação de Deus;
(2) é "inspirada por Deus" (2Tm 3.16), e inspirada num sentido diferente de todas as outras literaturas;
(3) revela os planos e os propósitos de Deus para as eras passadas e para a eternidade;
(4) centra-se no Deus encarnado em Jesus Cristo, o Salvador da humanidade (Hb 1.1-2).

1. Significado do nome "Bíblia"

A palavra "Bíblia" vem do termo grego biblia ("livros"), forma diminutiva de biblos ("livro"), denotando a parte interna da casca da cana do papiro (papel da antiguidade) da qual eram feitos os livros antigos (rolos). Daniel 9.2 refere-se aos escritos proféticos do AT como "os livros" (gr. ta biblia).

O prólogo de Eclesiástico (livro apócrifo de c.130 a.C.) chama os escritos do AT à parte da Lei e dos Profetas de "os outros livros". O autor de 1Macabeus (outro livro apócrifo) os designa como "os livros santos" (12.9). Essa designação foi transmitida para a terminologia cristã (2Clemente 14.2) e por volta do séc.V passou a ser aplicada às Escrituras como um todo. Jerônimo (c.400 d.C.) chamou a Bíblia de Bibliotheca Divina.

Por volta do séc. XIII, "por um feliz solecismo, o plural neutro passou a ser entendido como feminino singular, e 'os Livros' passou, de comum acordo, a "O Livro" (biblia, sing.), em cuja forma a palavra entrou nas línguas da Europa moderna" (Westcott, Bible in the Church, p.5). Essa evolução do termo "a Bíblia" da concepção plural para a singular tem se mostrado providencial, reforçando a unidade dos 39 livros do AT e dos 27 do NT.


2. Nomes que a Bíblia atribui a si mesma

O Senhor costumava referir-se aos livros do AT como "as Escrituras" (Mt 21.42; Mc 14.49; Jo 5.39). Seus seguidores fizeram o mesmo (Lc 24.32; At 18.24; Rm 15.4). Paulo referiu-se a elas como "as Sagradas Letras" (2Tm 3.15), "nas santas Escrituras " (Rm 1.2), "as palavras de Deus" (Rm 3.2, ARC).

Certa vez, Jesus se referiu a elas como "a Lei de Moisés, os Profetas e os Salmos" (Lc 24.44), fazendo eco à organização formal em hebraico. O AT é referido de forma mais breve como "a Lei e os Profetas" (cf. Mt 5.17; 11.13; At 13.15). Ainda mais sucinto, o termo "lei" compreende as outras divisões (Jo 10.34; 12.34; 15.25; 1Co 14.21).

A Bíblia não apresenta um nome para o conjunto completo das Escrituras. As únicas Escrituras conhecidas na época eram as do AT e os livros mais antigos do NT. Nesta última categoria, Pedro refere-se às epístolas de Paulo como "Escrituras" (2Pe 3.16).

3. Os termos "Antigo Testamento" e "Novo Testamento"

Desde o fim do séc. 2°, os termos "Antigo Testamento" e "Novo Testamento" têm sido empregados para diferenciar as Escrituras hebraicas das cristãs.

A coleção formal de escritos cristãos feita na segunda metade do séc. 2°. Foi chamada Novo Testamento. Essa coleção foi colocada junto aos livros canónicos hebreus, em condições de igualdade quanto à inspiração e autoridade. As Escrituras hebraicas foram então denominadas Antigo Testamento. Tertuliano, antigo pai latino (c.200), foi o primeiro a empregar o nome Novum Testamentum. A partir de então, o termo passou a ter uso corrente, cristalizando-se o conceito de uma Bíblia cristã.


Aplicados às Escrituras, os termos Antigo Testamento e Novo Testamento têm o significado estrito de Antiga Aliança e Nova Aliança. A Aliança (hebr. berith; gr. diatheké) é uma continuação da designação do AT para a lei mosaica, o livro da aliança (2Rs 23.2). Nesse sentido, Paulo fala em ler a "antiga aliança" (2.Co 3.14).

Assim também, o NT emprega diatheke não no sentido de testamento ou legado (exceto em Hb 9.16-17), como no grego clássico, mas de aliança. A conotação mais antiga, porém, ficou muito fixada para ser mudada. É importante notar que, mesmo dentro do NT, muitos dos eventos registrados (e.g., a maior parte dos quatro Evangelhos) ocorreram sob a Antiga Aliança. É só depois da morte de Cristo, seguida do rasgamento do véu que separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo (Mt 27.51), que termina a era da lei e, de fato, começa o novo testamento (aliança).

4. As línguas da Bíblia
O AT foi escrito quase totalmente em hebraico, um dialeto semítico da família do fenício e do ugarítico. Nele, os únicos trechos escritos em aramaico, outra língua semítica da família do hebraico, foram Ed 4.8 - 6.18; 7.12-16; Dn 2.4 - 7.28 e Jr 10.11. O NT foi todo escrito em grego. A arqueologia demonstra que essa era a língua cotidiana (koinê) do mundo greco-romano da época.

5. A ordem dos livros no Antigo Testamento hebraico

Os livros canónicos numa Bíblia hebraica de hoje são 24, sendo divididos em três partes — a Lei (Torah), os Profetas (Nebhiim) e os Escritos (Ketubim), também denominadas "os Salmos" (Lc 24.44). Essa divisão é antiga, sendo claramente implícita no prólogo do livro apócrifo de Eclesiástico (c.180 a.C.), conhecida por Fílon e mencionada pelo Senhor (Lc 24.22). A classificação, porém, sofreu algumas mudanças visíveis, com livros passando da segunda para a terceira divisão nos primeiros séculos cristãos.

A forma que nos chegou do período massorético (c.600-900 d.C.) é a seguinte:

1. A Lei (Torah), 5 livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio

2. Os Profetas (Nebhiim), 8 livros:
·        Profetas Anteriores, 4 livros: Josué, Juizes, Samuel, Reis;
Profetas Posteriores, 4 livros: Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze

3. Os Escritos, 11 livros:
Livros Poéticos, 3 livros: Salmos, Provérbios, Jó;
os Rolos (Megilloth), 5 livros: Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester;
Livros Profético-Históricos, 3 livros: Daniel, Esdras—Neemias, Crônicas.

Josefo, expressando a opinião judaica corrente no séc. 1a d.C., reconhece 22 livros (5 da Lei, 13 dos Profetas, 4 dos Escritos), em vez dos 24 posteriores. Nos livros da Lei, é claro, ele incluía Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Josefo incluía entre os 13 livros dos Profetas todas as Escrituras históricas e proféticas, contando como um livro cada um dos seguintes conjuntos: Juízes - Rute, 1 - 2Samuel, 1 - 2Reis, 1 -  2Crônicas, Esdras -  Neemias, Jeremias -  Lamentações e os Doze Profetas Menores (total de 7 livros). Josefo também incluía Josué, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Jó e Ester entre os Profetas. Nos Escritos ele colocava Salmos, Provérbios, Cantares e Eclesiastes.

Os 22 livros de Josefo eram, portanto, só os do cânon hebraico (sem incluir nenhum apócrifo). A divisão em 22 livros (número de letras do alfabeto hebraico) representa, ao que parece, uma divisão mais antiga que a rabínica, em 24 livros, que nos foi transmitida pelas Bíblias hebraicas modernas. Melito de Sardes (c.170 d.C.), Orígenes (c.250) e Jerônimo (c.400), seguindo autoridades judaicas, confirmam a divisão em 22 livros, registrada por Josefo, com alguma diferença de enumeração. Jerônimo também estava familiarizado com a divisão rabínica de 24 livros, obtida pela separação de Rute e Juízes e de Lamentações e Jeremias.

6. A inspiração da Bíblia

Por inspiração entende-se a influência de Deus sobre os autores humanos das Escrituras, de modo que as palavras e pensamentos por eles registrados nos autógrafos originais fossem isentos de erros (cf. 2Tm 3.16; Jo 10.35; 2Pe 1.19-21). Essa inspiração cobre apenas os escritos originais, embora um alto grau de precisão no texto transmitido não seja apenas algo que se espera, caso Deus esteja dirigindo o processo, mas também um fato demonstrado pela crítica textual. A exclusão de quaisquer erros de cópia que possam ter se infiltrado no texto transmitido é uma atividade que pertence ao domínio da baixa crítica, sendo um esforço legítimo de estudiosos consagrados.

A inspiração divina faz com que a Bíblia seja a Palavra de Deus, de forma sem igual, e não apenas um livro que contenha a Palavra de Deus, sendo essa a diferença que a distingue de outros livros sagrados ou seculares. É uma revelação inspirada do plano e dos propósitos redentores de Deus em Cristo por amor dos homens, e não uma revelação da ciência natural ou um livro de história secular. As supostas discrepâncias científicas devem-se ou a teorias científicas equivocadas ou a interpretações inadequadas das formas de pensamento da Bíblia.

Os supostos erros históricos podem ser causados por fatores como tradição textual falha, ou interpretação inexata de provas históricas ou arqueológicas, ou do próprio texto bíblico.

7. A autoridade da Bíblia

A autoridade reside na Palavra inspirada de Deus (a Bíblia), interpretada pelo Espírito de Deus, operada por meio de agentes humanos orientados pelo Espírito. O protestantismo ortodoxo difere do catolicismo por não defender nenhuma outra autoridade, exceto as Escrituras canónicas, como a voz do Espírito Santo.

Durante a Idade Média, a Igreja de Roma concentrou em si mesma toda a autoridade por meio do episcopado, pressupondo que o magisterium detinha a chave da interpretação das Escrituras e das leis divinas. Esse movimento culminou no decreto da infalibilidade papal de 1870, que sustenta que "o romano pontífice, quando fala ex cathedra, é dotado daquela infalibilidade com que o divino Redentor quis que sua Igreja estivesse equipada, definindo uma doutrina concernente à fé e aos costumes".

Correntes neo-ortodoxas e liberais do protestantismo negam a inerrância e a infalibilidade das Escrituras e, assim, sua autoridade final, substituindo-a por alguma autoridade interna, tal como sentimento, consciência, experiência, "Cristo falando por meio do Espírito Santo" etc.

8. Cristo, o tema unificador da Bíblia

Embora a Bíblia seja formada de 66 livros (39 no AT e 27 no NT), ainda é um livro. O tema unificador das Escrituras é Cristo. O AT faz a preparação para ele e o prediz, por tipos e por profecias. Os evangelhos o apresentam de modo redentor, em manifestação divina e humana. Atos retrata Cristo sendo proclamado e seu evangelho sendo propagado no mundo. As epístolas expõem sua obra redentora. Apocalipse o revela como a consumação de todos os planos e propósitos de Deus. Da descendência da mulher (Gn 3.15), prometido no paraíso perdido, ao "Alfa e ômega" (Ap 22.13) concretizado na reconquista do paraíso, ele é "o primeiro e o último", "o princípio e o fim" nos planos revelados de Deus para o homem.

9. O propósito da Bíblia

A Bíblia foi dada para testemunhar de um Deus Criador e Sustentador do universo, por meio de Cristo, Redentor dos pecadores. Ela apresenta uma história contínua — a da redenção humana. Essa história é um desvendar progressivo da verdade central da Bíblia de que Deus, em seu conselho eterno, se encarnaria em Jesus Cristo para a redenção do homem perdido.

O desvendamento dessa verdade central da redenção é feito por meio da história, profecias, tipos e símbolos. Essa revelação da redenção humana mediante Cristo orienta o homem no contexto maior dos planos de Deus para ele ao longo dos séculos, bem como o propósito divino para ele na eternidade.

Fonte: Manual Bíblico Unger.1ª Edição de 2006 – Ed. Vida Nova


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