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A Política da Igreja

🎯 O que é pouco concebível é buscar na Bíblia do primeiro século resposta para uma questão de modelo socioeconômico para o ocidente pós-industrial dos séculos 20 e 21: capitalismo ou socialismo? Compreendemos que o homem tem uma profunda necessidade de aprovação divina para suas opções contingentes. Daí uma busca inglória (da direita e da esquerda) de "bases bíblicas" para seu programa quando ele já está elaborado — a legitimação é buscada a posteriori.

1. A ética social da igreja primitiva

👉A EXPANSÃO INICIAL DA IGREJA FOI INSERIDA EM UM tempo preparado por Deus.

O Senhor usou a unidade política imperial de Roma: uma só legislação e uma só autoridade, permitindo fácil comunicação e deslocamento dentro das imensas fronteiras que abarcavam a maior parte do mundo civilizado de então. Era uma legislação tolerante para com as religiões reconhecidas. O judaísmo era uma delas. O cristianismo foi tido, no início, como um ramo divergente do judaísmo. Havia uma "língua franca", o grego, falada em todo o império, na qual foi escrito o Novo Testamento. Dentro do império os judeus, com sua esperança messiânica, juntamente com os nativos prosélitos, estavam em todas as cidades principais, inclusive a capital. Foram os primeiros ouvintes e contatos da obra de evangelização.

Inicialmente a Igreja não foi obediente à ordem de anunciar a mensagem "a toda criatura", praticamente permanecendo restrita à Palestina e a Jerusalém em particular. Deus usou a perseguição romana para espalhar seu povo.

A Igreja teria de reconhecer que a mensagem era para todos, e não somente para o povo da antiga aliança. O que ocorreu entre 66 e 73 d.C. foi uma nova e final guerra de libertação anti-imperial, liderada pelos zelotes. Roma, sangrentamente, esmagou a revolta, pôs fim à existência nacional judaica, espalhou os antigos habitantes (diáspora) e destruiu as cidades, aldeias e plantações. Jerusalém foi destruída. O templo foi destruído, pondo fim ao sacrifício. Já não se haveria de adorar em Jerusalém ou no monte, mas em espírito e em verdade. A destruição nacional se liga ao crescimento da nova "nação santa". A vontade de Deus foi feita com a mediação do braço político-militar imperial. Mistério e verdade.

O modelo de vida da igreja-mãe de Jerusalém foi eminentemente comunitário. Não somente viviam em impressionante espírito de fraternidade, como abdicavam do direito de propriedade privada: "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade" (At 2.44-45); "Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade" (At 4.32, 34-35).

Perseguidos e pobres, não construíam templos, mas se reuniam nas casas dos crentes, colaborando para a solidez da instituição familiar. A refeição conjunta, naquele contexto cultural, era o grande símbolo da unidade de crenças e propósitos, da consideração mútua como irmãos. Diante do Senhor não há distinções, e os irmãos demonstravam isso de modo tão prático que causava impacto entre os inconversos, ao ponto de atraí-los à fé. O texto nos diz que essa qualidade de vida — individual e comunitária — implicava a simpatia do povo e o êxito da evangelização: "Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos" (At 2.47b).

Perguntamo-nos: não está o relativo insucesso da obra de evangelização, em nossos dias, relacionado com a visível ausência de implicações práticas, na vida dos fiéis e no âmbito das relações da comunidade, que atestem o novo nascimento?

Tem havido muita controvérsia quanto à opção socioeconômica da Igreja de Jerusalém. É claro que era uma forma primitiva de comunismo (bens em comum), que posteriormente iria influenciar o movimento monástico e, depois da Reforma do século 16, algumas formas de comunidades pietistas. Embora hoje essa influência seja mais notada na Igreja de Roma — sempre alérgica ao capitalismo — registra-se um ressurgimento monástico protestante (principalmente na Europa) e a proliferação de comunidades, ou "casas", de evangélicos leigos, casados e profissionais que optam por um estilo de vida diferente dentro da sociedade.

🎯 O que é pouco concebível é buscar na Bíblia do primeiro século resposta para uma questão de modelo socioeconômico para o ocidente pós-industrial dos séculos 20 e 21: capitalismo ou socialismo? Compreendemos que o homem tem uma profunda necessidade de aprovação divina para suas opções contingentes. Daí uma busca inglória (da direita e da esquerda) de "bases bíblicas" para seu programa quando ele já está elaborado — a legitimação é buscada a posteriori.

🎯 Sobre o que aconteceu na igreja primitiva, entendemos que:
👉1. O modelo de vida da Igreja de Jerusalém não era normativo, pois não o encontramos em outras igrejas da época;

👉2. O modelo era uma opção da Igreja, e não uma proposta feita por ela para o mundo;

👉3. Viver o modelo era uma opção livre, e não resultado de
coação;

👉4. O modelo, em parte, se relaciona com um erro de interpretação de escatologia: a crença de que o Senhor voltaria logo, não valendo a pena gastar tempo com outras coisas. Erro que ainda hoje muita gente comete, não querendo trabalhar ou estudar, mas se ocupar somente das coisas espirituais, com semelhante, alegação. Isso não deixa de ser uma desobediência, pois somos instados a levar uma vida normal, de obediência, e o Senhor virá subitamente, quando quiser;

👉5. Consequentemente, o modelo fracassou, porque era um comunismo de bens e consumo, e não de bens e produção. Quando todos acabaram de comer o que era de todos, todos ficaram com fome (juntamente em uma época adversa), dependendo da caridade dos irmãos de outras igrejas, que continuavam trabalhando.
📝Ao lado disso, podemos tirar lições positivas:

1. No Éden, como na Nova Jerusalém, não se pode cogitar em propriedade privada e desníveis socioeconômicos, porque, na comunhão absoluta com Deus, a vida se baseia no amor, e não na competição;

2. A vida em comum é um modelo do reino de Deus, e não do mundo sem Deus, partindo de uma mudança interior. A natureza humana caída é egoísta, e toda tentativa de transformá-la de fora tem resultado em luta, sangue, ódio e imposição. Uma situação artificial, que pode arrebentar a qualquer momento, desde que se enfraqueçam os mecanismos coercitivos;

3. A igreja primitiva atestou, antecipadamente, o modelo do reino de Deus, deixando para as igrejas da posteridade uma lição de necessidade de desprendimento dos bens materiais e de sensibilidade diante das necessidades dos carentes;

4. Qualquer tentativa atual (comunidades pietistas ou Kibutzin judeus) deve incluir necessariamente o elemento trabalho: uma comunidade de produção, segundo uma divisão natural de necessidades, recursos, talentos e vocação;

5. A vida em comunidade é uma opção cristã para hoje (e deve ser mais difundida), não tendo, contudo, caráter normativo. Os que preferem outras opções, porém, devem manter em mente os ideais do reino, como agentes do amor e da justiça no trabalho, no lar, na igreja e na sociedade.

Os conservadores, em geral, se sentem desconfortáveis com esse texto, procuram "passar por cima", espiritualizar ou acentuar o erro dos irmãos daquele tempo. Qualquer possibilidade admissível ficaria para o milênio. Os radicais, por sua vez, universalistas quanto à salvação, pós-milenistas quanto à escatologia e esquerdistas quanto à política, terminam por sacralizar uma opção socialista agora, advogando uma frente unida com ideologias seculares materialistas na expansão do reino, não por meio da graça e do Espírito Santo, mas da doutrinação e da coação, crentes em uma mudança de fora para dentro, apelando mais para o exemplo do Antigo do que do Novo Testamento. O pensamento político liberal, por sua vez, finca pé na defesa da propriedade privada como defesa do cidadão contra o arbítrio do Estado, como instrumento de criatividade e subsistência pessoal e familiar, vinculado a um objetivo de alcance do bem comum, com uma função e destinação social, dentro de uma dinâmica histórica que supera suas etapas.

Referências:CAVALCANTI, Robinson. CRISTIANISMO E POLÍTICA; Teoria Bíblica e Prática Histórica. Viçosa - MG: Ultimato, 2002.
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