Raabe, uma ex-meretriz

👉 Raabe era uma meretriz de Jericó, na casa de quem dois espias se abrigaram, pouco antes da conquista da Palestina por Josué (Js 2.J-21). 

Aterrorizada pela aproximação dos israelitas, concordou em proteger os espias se eles lhe garantissem que ela e sua família ficariam a salvo. Ela os escondeu dos oficiais do rei de Jericó e os ajudou a escapar pela janela de sua casa, que ficava sobre os muros da cidade. Quando a cidade foi tomada, Josué poupou Raabe e seus parentes (Js 6.17,22,25).

De acordo com a genealogia apresentada por Mateus (Mt 1.5) ela tomou-se esposa de Salmom e foi a mãe de Boaz. O autor de Hebreus a menciona como um exemplo de fé (Hb 11.31) e Tiago faz menção à sua fé, demonstrada por suas boas obras (Tg 2.25).[1]


Hebreus 11, a galeria dos heróis da fé, cita apenas duas mulheres pelo nome: Sara, a esposa de Abraão (v. 11) e Raabe, uma meretriz de Jericó (v. 31). 

Sara era uma mulher temente a Deus, esposa do fundador do povo hebreu, e Deus usou seu corpo consagrado para dar à luz Isaque. Raabe, por sua vez, era uma gentia ímpia que adorava a deuses estranhos e vendia seu corpo. Em termos humanos, Sara e Raabe não tinham nada em comum. Mas do ponto de vista divino, Sara e Raabe compartilhavam a coisa mais importante da vida: as duas exercitaram a fé salvadora no verdadeiro Deus vivo.

Porém, a Bíblia vai ainda mais longe e relaciona Raabe ao Messias! Ao ler a genealogia de Jesus Cristo em Mateus 1, encontramos o nome de Raabe na mesma lista (v. 5) em que estão os nomes de Jacó, Davi e de outras pessoas famosas da linhagem messiânica. Sem dúvida, ela percorreu um longo caminho de prostituta pagã a antepassada do Cristo.

Neste ensaio, gostaria de chamar a atenção para a fé de Raabe. Contudo, surge a intrigante pergunta: “Como pode uma meretriz ter fé?” “É possível?” “Como era a fé de Raabe?” [Antes de tudo,] era uma fé corajosa (Js 2.1-7). Tanto Hebreus 11.31 como Tiago 2.25 mostram que Raabe havia depositado sua fé no Deus eterno antes de os espias chegarem a Jericó. Esta era uma das “Cidades-estados” de Canaã, e cada uma delas era governada por um rei (Js 12.9-24). A cidade ocupava cerca de oito ou nove acres, e há evidências arqueológicas de que era protegida por uma muralha dupla, em que cada parte era separada da outra por uma distância de cinco metros. A casa de Raabe ficava sobre essa muralha (Js 2.15).

Contudo, 40 anos antes, Moisés havia enviado 12 espias a Canaã, e somente dois deles apresentaram um relato favorável (Nm 13). Josué, por sua vez, enviou dois homens para espiar a terra e, especialmente, obter informações sobre Jericó, uma vez que queria descobrir como os habitantes da cidade estavam reagindo à chegada do povo de Israel. De que modo os dois espias entraram na cidade sem ser imediatamente reconhecidos como forasteiros? Como encontraram Raabe? Ao ver esses acontecimentos desenrolando-se, somos compelidos a crer na providência divina. Raabe era a única pessoa em Jericó que cria no Deus de Israel, e Ele levou os espias até ela.

É impressionante como Deus, em Sua graça, usa pessoas que, a nosso ver, jamais poderiam servi-lo (1Co 1.27-29). Raabe colocou sua vida em perigo ao acolher os espias e escondê-los. Porém, esse fato em si mostra sua fé no Senhor. É impossível ocultar a fé salvadora por muito tempo. Uma vez que aqueles dois homens representavam o povo de Deus, ela não teve medo de ajudá-los, e se o rei tivesse descoberto a dissimulação de Raabe, ela teria sido executada como traidora.

A fé dela era também confiante (Js 2.8-11). A fé vale tanto quanto aquilo em que se crê. Há quem creia na fé e pense que pelo simples fato de crer pode fazer maravilhas. Outros creem em mentiras, o que na verdade não é fé, mas, sim, superstição.

O Dr. Martyn Lloyd-Jones disse: A fé manifesta-se em toda a personalidade. A verdadeira fé salvadora não é apenas uma proeza resultante do esforço intelectual pelo qual nos convencemos de que algo é verdade, quando não o é. A verdadeira fé salvadora envolve “toda a nossa personalidade”: a mente é instruída, as emoções são estimuladas e a vontade age em obediência a Deus.

Veja isto exemplificado na vida de Raabe:Ela sabia que Jeová era o Deus verdadeiro [a mente], ela temeu por si mesma e por sua família quando soube das grandes maravilhas que Ele havia realizado [as emoções] e ela recebeu os espias e implorou pela salvação de sua família [vontade]. Portanto, toda a personalidade deve estar envolvida, pois, caso contrário, não se trata de uma fé salvadora conforme descrita na Bíblia.

Quando disse: Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra, (Js 2.9), Raabe demonstrou mais fé do que aqueles dez espias, 40 anos antes. Sua fé se baseava em fatos, e não apenas em sentimentos, já que ela ouvira falar dos grandes milagres que Deus havia realizado, a começar pela divisão das águas do mar Vermelho no Êxodo.

Porque o SENHOR, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra (Js 2.11). Uma confissão de fé tremenda, vinda dos lábios de uma mulher cuja vida havia sido cativa da idolatria pagã! Raabe creu no único Deus e não no panteão de deuses que habitava os templos pagãos. Creu que Ele era um Deus pessoal (vosso Deus), que agiria em favor daqueles que confiavam nele.

E para você, leitor, o seu Deus é apenas Deus dos céus, ou também é o Deus de toda a terra? Para muitos cristãos, o Senhor é Deus apenas dos céus, e não da terra! Ele manda em cima, mas não interfere embaixo. O Deus de Raabe era Deus dos céus e Deus de toda a terra. Aleluia! Raabe creu em um Deus grande e tremendo!

Era, ainda, uma fé que se preocupa com o próximo (Js 2.12-14). Algo extraordinário que podemos destacar da fé de Raabe era que ela não estava preocupada apenas com o seu próprio bem-estar, pois, uma vez que havia experimentado a graça e a misericórdia de Deus, sentiu a responsabilidade de salvar sua família. Este exemplo deu André, que, após encontrar o Senhor Jesus, partilhou as boas-novas com o irmão, Simão, e levou este a Cristo (Jo 1.35-42). O mesmo sucedeu ao leproso purificado, que voltou para casa e contou o que Jesus havia feito por ele a todos que encontrou (Mc 1.40-45).

Raabe queria uma garantia dos dois espias:quando a cidade fosse tomada, eles cuidariam para que a família dela permanecesse em segurança. Os homens lhe asseguraram esta garantia ao dar-lhe a palavra deles e jurar por sua vida que a cumpririam. Assim, eles se tornaram responsáveis pela família de Raabe. No âmbito espiritual, somos salvos porque Jesus Cristo, que não tinha dívida alguma, dispôs-se a ser nosso fiador (Hb 7.22). Ele morreu por nós e por isso nossa salvação está garantida. A maior transação da História (2 Co 5.18-21). Deus não contabilizou os nossos pecados. Deus colocou nossos pecados sobre Cristo. Ele transferiu a justiça de Cristo para nós!

Era também uma fé pactual (Js 2.15-24). Uma aliança, ou pacto, é simplesmente um acordo, um contrato entre duas ou mais partes, com certas condições que devem ser respeitadas por todos os envolvidos. Nas Escrituras, podemos encontrar várias alianças divinas: a de Deus com Noé (Gn 9), com Abraão (Gn 15) com Israel (Êx 19.20); a aliança messiânica com Davi (2 Sm 7) e a nova aliança no sangue de Jesus Cristo (Mt 26.28; Hb 12.24).

Antes que os dois espias deixassem a casa de Raabe, reafirmaram a aliança feita com ela. Em várias alianças bíblicas, Deus determinou um "símbolo” físico para lembrar o povo daquilo que havia sido prometido. No caso de Noé, foi o arco celeste. No caso de Abraão, a circuncisão. E quando Deus estabeleceu Sua aliança com Israel no Sinai, tanto o livro da aliança quanto o povo da aliança foram aspergidos com sangue (Êx 24.3-8; Hb 9.16-22). O Senhor Jesus usou o pão partido e o cálice para simbolizar a nova aliança (Lc 22.19; 1 Co 11.23-26).

No caso de Raabe, os espias lhe instruíram a pendurar um cordão escarlate do lado de fora da janela de sua casa, que ficava no muro da cidade (Js 2.18). Quando o exército de Israel tomasse a cidade, o cordão identificaria a casa dela como um “lugar de segurança”. A cor desse cordão é significativa, pois lembra sangue. Assim como o sangue nos umbrais das portas no Egito marcou as casas sobre as quais o anjo da morte deveria passar adiante, o cordão escarlate marcou a casa no muro do Jericó, cujos ocupantes deveriam ser protegidos pelos soldados de Israel.

Convém lembrar que Raabe e sua família foram salvas por sua fé no Deus de Israel, e não por terem fé no cordão pendurado do lado de fora da janela. O fato de ela pendurar o cordão ali foi a prova de que creu, assim como o sangue nos umbrais das portas no Egito provou que os hebreus creram na palavra de Deus. A fé no Deus vivo significa salvação, e a fé em Sua aliança dá segurança. Porém, fé em um símbolo da aliança não passa de superstição religiosa, e não pode conceder salvação nem segurança.

Raabe foi uma mulher de grande coragem. Teve de contar aos familiares sobre o julgamento vindouro e a promessa de salvação - algo perigoso. Você já pensou se um daqueles parentes comunicasse ao rei o que estava acontecendo? Com certeza, ela também teve de dar explicação para o cordão escarlate do lado de fora da janela. Que mulher extraordinária! Raabe não apenas deu esperança a sua família, mas também deu grande ânimo a Josué e ao exército de Israel.
Divulgação: Uikisearch
📚 Referências:
- BLAU, Rav. Avraham. O livro de Josué. Ed. Maayanot.
- WIERSBE, Warren. Comentário Expositivo. São André: Geográfica Editora, 2006.


[1] W. F. Albright, “Dedan”, Alt Volume (1953), 1-12.

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