Avaliar o atual contexto social, político, econômico, religioso e educacional da atualidade passa, inevitavelmente, pela análise do quanto a tecnologia tem influenciado cada uma dessas áreas.
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Diante
da realidade na qual o mundo se encontra, o fenômeno das relações virtuais
deixou de ser apenas uma tendência e passou a ser uma necessidade. O
protagonismo que os recursos tecnológicos desta natureza têm assumido na vida
das pessoas afeta a educação, causando significativas transformações no
processo do ensino-aprendizagem. Evidentemente que a educação cristã não está
isenta dessas transformações, e os que por ela militam devem estar atentos
quanto à sua realidade e os seus efeitos, com vistas à exploração do máximo de
seus benefícios e à proteção de seus possíveis malefícios, a depender da forma
e do propósito para o qual estes recursos são usados.
Os
meios usados para a comunicação virtual possibilitam o que em tempos atrás era
impensável, como uma aula dada por um professor, virtualmente. Por outro lado,
estes mesmos recursos - se mal administrados - podem causar danos irreparáveis
na formação cristã de uma pessoa. Com base nisso, além de reconhecer que os
meios tecnológicos têm influenciado nas mudanças de abordagem da Educação
Cristã, este artigo objetiva destacar o imprescindível papel do educador cristão
no sentido de preservar os princípios que são inegociáveis desta importante
tarefa da igreja.
O
principal papel do educador cristão pode ser notado nas palavras de Paulo aos
gálatas: "Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que
Cristo seja formado em vós" (Gl 4.19). Os que trabalham na educação cristã
têm como objetivo gerar o caráter de Cristo em seus alunos e, conforme o texto
paulino informa, trata-se de um processo doloroso e que requer esforço e
dedicação. Nesse sentido, essa tarefa tem suas raízes na responsabilidade que a
igreja tem de fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.19-20).
Nessa
esteira, é preciso refletir na figura do educador como a de um discipulador
que deve ter condições espirituais e intelectuais para orientar, ensinar e
conduzir novos discípulos de Cristo ao conhecimento das Escrituras,
orientando-os sobre como esses ensinamentos devem refletir na vida prática,
tendo em vista a necessidade de refletir o caráter de Cristo. A preocupação do
genuíno educador cristão vai além da transmissão de conteúdos doutrinários,
pois envolve também as mais variadas áreas da vida de seus alunos. Um forte
exemplo disso são a preocupação e as orientações de Paulo a Timóteo, em áreas
como saúde física (1Tm 5.23), questões emocionais (2Tm 1.7), doutrinárias (1Tm
4.16) e espirituais (1Tm 4.7).
Esse
aspecto prático dos ensinamentos requer um relacionamento saudável entre
educador e educando. Conforme se vê nas passagens bíblicas supracitadas, até
certo ponto essa relação pode ocorrer à distância; no entanto, em algumas
situações haverá a necessidade de encontros presenciais, conforme as palavras
do próprio Paulo a Timóteo: "Procura vir ter comigo depressa" (2Tm
4.9). Com vistas a ampliar a compreensão sobre esse aspecto, é importante
ressaltar que Paulo cumpriu sua responsabilidade como educador cristão com
eficácia, ainda que à distância. As palavras do apóstolo em Romanos 1.11-12
atestam essa verdade: "Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom
espiritual, a fim de que sejais confortados, isto é, para que juntamente
convosco eu seja consolado, pela fé mútua, tanto vossa quanto minha".
Com
as palavras acima e por tratar-se de uma carta, fica evidente que Paulo a
escreveu estando distante de seus destinatários; aliás, acredita-se que estava
em Corinto, por ocasião de sua terceira e última viagem missionária. A Carta
aos Romanos é uma das mais importantes que Paulo escreveu, contendo os
principais fundamentos da fé cristã e da boa teologia, e isso foi possível ser
transmitido à distância, por meio do recurso disponível na época, isto é, uma
carta. No entanto, as palavras supracitadas demonstram que existem riquezas
espirituais e experiências que dependem do convívio pessoal. Por exemplo, o
apóstolo fala de "algum dom" e do ser "confortados" que
seriam compartilhados pessoalmente; isto é, este dom diz respeito a algo além
daquilo que ele estava compartilhando por meio da carta, enquanto que o
conforto por ele mencionado só poderia vir a ser experimentado na convivência
com os irmãos de maneira presencial.
Portanto,
diante dos fatos aqui compartilhados, torna-se necessário refletir e reconhecer
que os que trabalham na educação cristã, dentre outros desafios, são chamados a
manterem o equilíbrio entre o uso dos recursos tecnológicos da comunicação dos
dias atuais e a essência dos ensinamentos cristãos, isto é, aqueles princípios
inegociáveis que lhes são inerentes. Para que isso seja possível, é imperativo
que o limite entre essas partes seja bem definido e esteja bem claro aos
educadores cristãos. Mas, afinal, qual é este limite?
A
natureza da educação cristã é o discipulado, que por sua vez tem como objetivo
o desenvolvimento do caráter de Cristo nos educandos. Enquanto esse objetivo
estiver sendo cumprido, ainda que à distância, por meios tecnológicos de
comunicação, não há razão para preocupar-se, embora seja necessário estar
alerta, pois em algum momento impor-se-á a necessidade de que o educador e o
educando estejam juntos e assim caminhem no sentido de alcançarem o objetivo
dessa nobre tarefa.
Portanto,
conclui-se que a tecnologia atual deve servir ao propósito da educação cristã
de formar discípulos de Cristo, tendo o cuidado para não sujeitarmo-nos àquela,
caso contrário poderemos nos tornar uma espécie de reféns. Destaca-se também
que estes meios tecnológicos não devem suprimir a necessária relação saudável
entre educador e educando, relação esta que deve ocorrer na vida prática com
seus variados desafios, à medida que o caráter de Cristo é forjado naquele que
é chamado a refleti-lo na sociedade.
Elias
Rangel Torralbo - Pastor, escritor, mestre em Teologia, diretor executivo da
FAESP - Faculdade Evangélica de São Paulo.