Cristo é a Nossa Reconciliação com Deus

Depois de haver explicado o maravilhoso plano da salvação dos indivíduos, Paulo passa a argumentar sobre um outro aspecto fundamental da salvação: a união de todos os povos, raças e culturas diante do único Deus. 

A partir do sacrifício vicário do Deus Filho, o Messias; judeus e não-judeus (gentios), antes hostis uns com os outros e separados de Deus, agora, em todo o mundo e por toda a história da humanidade, estão reconciliados entre si e com o Senhor, mediante o Cordeiro, Jesus (Ef 2.11-16).

1. Em Cristo, não há mais muro de separação entre Judeus e Gentios (Ef. 2.14).
“Porque Cristo é nossa paz. Ele uniu judeus e gentios em um só povo ao derrubar o muro de inimizade que nos separava” (Ef 2.14 – NVT).
O “muro da inimizade[NVI]” (parede de separação [ARC]) pode ser uma alusão à divisória que havia na área do templo de Jerusalém e demarcava o limite da distância permitida aos gentios. Paulo usa esse muro como ilustração da separação religiosa que existia entre judeus e gentios.

a) Os dois tipos de separação entre Judeus e Gentios.
Os gentios experimentaram dois tipos de separação. A primeira era social, resultando da animosidade que havia existido entre judeus e gentios por milhares de anos. Os judeus consideravam os gentios como excluídos, objetos de escárnio e repreensão.
O segundo e mais significativo tipo de separação era a espiritual porque os gentios, como um povo, estavam separados de Deus de cinco maneiras diferentes:
1) eles estavam "sem Cristo", o Messias, não tendo um salvador e libertador, e sem propósito ou destino divino.

2) Eles estavam "separados da comunidade de Israel". O povo escolhido de Deus, os judeus, era uma nação cujo supremo Rei e Senhor era o próprio Deus, e de cuja bênção exclusiva e proteção eles se beneficiavam.

3) Os gentios eram "estranhos às alianças da promessa"; não podiam partilhar das alianças divinas de Deus nas quais ele prometeu dar ao seu povo uma terra, um sacerdócio, um povo, uma nação e um rei — e para aqueles que cressem nele a vida eterna e o céu. 4) Eles não tinham "esperança" porque não haviam recebido nenhuma promessa divina. 5) Eles estavam "sem Deus no mundo".

Embora os gentios tivessem muitos deuses, não reconheciam o verdadeiro Deus porque não o queriam (Rm 1.18-26).

b) O muro divisor do pátio dos Gentios – Informação histórica.
Os gentios estavam autorizados a entrar na parte externa da área delimitada do templo em Jerusalém. Essa grande área pavimentada em volta do templo e seus pátios internos eram delimitados por uma colunata dupla de pilares com 10 metros de altura. O perímetro dessa área media 900 metros. Esse pátio externo também era chamado de pátio dos gentios.

Mas os gentios eram fisicamente proibidos de acessar os pátios internos do templo por uma barreira de 1,4 metro de altura (o "muro de inimizade", Ef 2.14 - NVI). O historiador judeu Flávio Josefo informa que 13 placas de pedra com inscrições em grego e em latim foram colocadas ao longo da barreira, advertindo os gentios a que não entrassem.

Nas palavras de Josefo: "Havia uma divisão feita de pedra [...]. Sua construção era muito elegante; sobre ela, ficavam pilares, em distâncias iguais entre um e outro, anunciando a lei de pureza, em grego e em outras em letras romanas, dizendo que “nenhum estrangeiro” deveria entrar no santuário'" (Guerras, 5.5.2).

Os arqueólogos descobriram duas dessas placas de aviso, que dizem: "Nenhum estrangeiro tem permissão de entrar na balaustrada em torno do santuário e do pátio. Quem for pego, será responsável por sua decorrente morte".

Esse muro divisor teve grande significado para Paulo, que foi preso em Jerusalém por supostamente levar um gentio para o pátio interno do templo (ver At 21.16-30). Paulo e outros cristãos judeus reconheciam que o Deus que havia anteriormente residido no templo havia entrado na humanidade na pessoa de Jesus, o Messias. A morte de Jesus na cruz e sua ressurreição haviam, na verdade, rompido o muro divisor, efetuando unidade espiritual entre judeus e gentios. Como resultado, Paulo sabia, todas as pessoas tinham acesso garantido a Deus por meio da fé salvadora em Jesus Cristo.[1]

2. Os gentios e os judeus são unidos pela cruz de Cristo.
“[...] reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por meio da cruz, destruindo a inimizade por meio dela (Ef 2.16b – NAA).
Como os judeus e os gentios são unidos a Deus por meio de Cristo Jesus, eles são unidos uns aos outros. Isso foi realizado na cruz onde Jesus tornou-se maldito (Cl 3.10-13), tendo suportado a ira de Deus de modo que a justiça divina fosse satisfeita e a reconciliação com Deus se tornasse realidade.

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3. Cristo aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças (Ef 2.15 – NAA).

Por meio de sua morte, Cristo aboliu as leis, as festas e os sacrifícios cerimoniais do Antigo Testamento, que separavam, especificamente, os judeus dos gentios (Cl 2.11,16,17). A lei moral de Deus (conforme resumida nos Dez Mandamentos e escrita no coração de todos os homens, Rm 2.15) não foi abolida, mas incluída na nova aliança, porque ela reflete a sua própria natureza santa (Mt 5.17-19).

Em que sentido a “lei dos mandamentos” foi anulada em Cristo (Ef 2.15)?
A interpretação ortodoxa considera que, “em Cristo”, foi eliminado o legalismo, que era utilizado pelos judeus como meio de obtenção da vida eterna e da santificação (Rm 8.2).

a) As três partes da Lei Mosaica.
A Lei moral, cerimonial e civil, são três partes de uma mesma lei, a Lei Mosaica.

(1) As leis civil ou judicial e cerimonial dizem respeito ao israelita como cidadão. Tais leis não devem ser consideradas como extensões ou aplicações dos Dez Mandamentos; “essas leis específicas foram outorgadas principalmente à nação de Israel da Antiguidade, e a sua aplicação à vida cristã atual deve ser governada pelos princípios básicos estabelecidos no Novo Testamento”.

(2) Lei Moral (Êx 20.1-17) - exceto o rito da guarda do sábado[2](Cl 1.16,17), permanece em vigor como padrão de conduta, mas não como meio de salvação, pois a salvação não vem pelas obras (Ef 2.8,9).

Ninguém pode ser salvo apenas obedecendo aos Dez Mandamentos (At 13.39; Rm 3.20, Gl 2.16), entretanto, esses mandamentos ainda estão válidos por que levam o cristão a descobrir a natureza e o poder do pecado. Essa verdade é ensinada por Paulo (Rm 3.20; 5.20; 7.7; Gl 3.19).

A abordagem da lei moral ainda válida para o cristão de nossos dias é magnificamente descrita no salmo 119.97.

4. Por meio de Cristo a Inimizade dá lugar a reconciliação (Rm 5.10; Ef 2.15,16; 2 Co 5,18,19).

a) O significado de reconciliação.
O verbo grego katallasso[pronuncia-se ka tal LAS so] (reconciliar) significa, basicamente, mudar ou trocar. Este verbo muitas vezes era usado como um termo monetário, indicando trocar dinheiro, mas em geral se referia a trocar uma coisa por outra. Um uso comum de katallasso era alguém mudar de inimigo para amigo, isto é, reunir ou reconciliar duas pessoas ou dois grupos em desacordo. E desta maneira que katallasso é usado nas seis vezes em que ocorre nas páginas do NT, como também é o caso dos quatro usos do substantivo relacionado katallage(que significa reconciliação; ver 2Co 5.18-19; Rm 5.11; 11.15], Estas duas palavras só são encontradas nos escritos de Paulo. Em 1Co 7.11, Paulo utilizou katallassopara descrever a reconciliação entre marido e mulher. Os demais cinco usos de Paulo do termo explicam que os incrédulos podem se reconciliados com Deus por meio de Cristo. Por causa do pecado, os infiéis são inimigos de Deus (Rm 5.10), mas eles podem se reconciliar com Deus por meio da fé em Cristo (2Co 5.18-19). [3]

A reconciliação refere-se à restauração do pecador à comunhão com Deus.
(1) O pecado e a rebelião da raça humana trouxeram como resultado, hostilidade contra Deus e alienação dEle (Ef 2.3; Cl 1.21). Essa rebelião provoca a ira de Deus e seu julgamento (Rm 1.18,24-32; 1 Co 15.25,26; Ef 5.6).
(2) A reconciliação entra em vigor mediante o arrependimento e a fé pessoal em Cristo, do pecador (Mt 3.2; Rm 3.22).
(3) A igreja recebeu de Deus o ministério da reconciliação (2Co 5.18), para conclamar todas as pessoas a se reconciliarem com Ele (2Co 5.20; ver Rm 3.25).[4]

c) Os exemplos de reconciliação.
Entre um homem e o seu irmão (Mt 5.23,24). Entre marido e mulher (1 Cr 7.11). Entre Deus e o pecador (Rm 5.8,10,11).

d) As duas fases da reconciliação.
ü    Deus reconciliou o mundo consigo mesmo por intermédio de Cristo (2 Co 5.19).
ü    O homem agora precisa reconciliar-se com Deus por intermédio de Cristo (2 Co 5.20).

5. Em Cristo, Judeus e Gentios formam um só povo: a Igreja.
Pela sua morte na cruz, Cristo destruiu a inimizade que havia entre os dois povos. Por meio da cruz, ele os uniu em um só corpo e os levou de volta para Deus” (Ef 2.16 – NTLH).
A versão bíblica Almeida Revista Corrigida diz: “dos dois um novo homem”. A versão NVT diz: “uma nova humanidade”. Essas expressões referem-se à Igreja que é o Corpo de Cristo (Ef 4.13).

“Quando um judeu crê no Senhor Jesus, ele perde a sua identidade nacional. Daí em diante passa a estar em Cristo. O mesmo sucede quando um gentio recebe o Salvador. A partir desse momento ele está “em Cristo”. De ambos fez um — a saber, de crentes judeus e gentios. Agora eles não são mais judeus ou gentios, mas cristãos. Rigorosamente falando, não é certo referir-se a eles como cristãos judeus ou cristãos gentios. Todas as distinções ligadas à carne, como, a nacionalidade, foram cravadas na cruz” (William MacDonald).
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Autor: Evangelista Jair Alves
Publicação: Uikisearch
💻 Site: www.uikisearch.org




[1]Bíblia de Estudo Arqueológica
[2]A guarda do sábado é o único preceito do Decálogo não repetido no Novo Testamento para ser observado pelo cristão (ver Cl 2.16). O sábado é um preceito cerimonial, pois é colocado no mesmo nível do ritual do templo (Mt 12.2-4). Desse modo, concordes com as citações acima, não é acerca da lei civil (restrita aos israelitas) ou da lei moral (ainda em vigor) que Paulo fazia referência em apreço Ef 2.15.
[3]Bíblia de Estudo King James 1611, p 1917
[4]Bíblia de Estudo Pentecostal

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