No Brasil e no mundo existem alguns cristãos que são adeptos da Teoria Cessacionista. Segundo essa linha interpretativa, os dons espirituais foram dados somente para a Era Apostólica como um meio de autenticar a mensagem do Evangelho e credenciar os apóstolos. Consequentemente, sob esse ponto de vista, os dons espirituais cessaram no final do primeiro século.
A ARGUMENTAÇÃO
UTILIZADA
A argumentação comumente
utilizada pelos simpatizantes dessa teoria é o modo como interpretam o texto
de 1Corintios 13.8-10: "O amor nunca falha; mas, havendo profecias,
serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Mas, quando vier o que
é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado".
A controvérsia recai especialmente no versículo 10: "Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado". De fato," essa passagem e os versículos subsequentes são essenciais para a discussão.
Paulo interrompe os esclarecimentos e orientações acerca dos dons espirituais do capítulo 12 dessa Epístola e passa a fazer um alerta à Igreja. Os coríntios estavam fazendo mau uso dos dons. Visavam à autopromoção e contentavam-se com a aparência de espiritualidade. O apóstolo foi inspirado a escrever-lhes acerca do uso correto e do propósito divino na concessão dos dons.
Paulo ensina que não é
suficiente "procurar com zelo os melhores dons" (12.31); torna-se
imprescindível o exercício do amor, pois, sem o amor, enfatiza o apóstolo, os
dons espirituais não possuem valor algum (13.1-3).
A linha argumentativa do capítulo 13
indica que o amor é superior aos dons, uma vez que os dons são temporários e o
amor é permanente. As profecias passam, as línguas cessam, a ciência chega ao
fim, mas o amor sobrevive (13.8).
Nos versículos 9 a 12, o apóstolo explica as razões pelas quais os dons são temporários.
O ensino é de que a ciência,
as línguas e as profecias no presente são parciais e imperfeitas. Servem apenas
às necessidades existenciais e nos assessoram até que alcancemos a plenitude
"porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos" (v9).
Quando, porém, vier "o que é
perfeito", não precisaremos mais dos dons e eles serão substituídos, pois
"o que é em parte" irá desaparecer (v. 10).
A expressão "o que é em parte" (do grego
"ek merous", que significa "parcial",
"imperfeito") refere-se aos dons listados no versículo 8 (profecias,
línguas e ciência).
Embora os demais dons não sejam
citados, a repetição de "se [...] se [...] se" sugere que todos os
dons devam ser considerados sob a mesma ótica. Portanto, o versículo 10 poderia
ser assim parafraseado: "Quando vier o que é perfeito, os dons que são
imperfeitos desaparecerão".
A questão agora é determinar o tempo a
que se refere a expressão "quando vier".
Em que época aparecerá ou virá o que é
perfeito dando fim aos dons espirituais?
Outra questão a descobrir é "quem" ou "a que" se refere a expressão "o que é perfeito?".
As respostas para o sentido exato de
tais expressões só podem ser determinadas pelo contexto imediato da Escritura.
Para uma interpretação imparcial, é
necessário prosseguir na leitura da perícope. No versículo seguinte, Paulo faz
uma analogia entre a transição da fase infantil para a fase adulta (v. 11),
para logo em seguida explicar: "Porque, agora, vemos por espelho em
enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então,
-conhecerei corno também sou conhecido" (v. 12).
PERGUNTAS A SER
RESPONDIDAS
Quando veremos "face a face"?
A que tempo se refere o apóstolo?
Quando conheceremos "como também
somos conhecidos"?
Em que época isso acontecerá?
O contexto mostra que Paulo se refere à Volta do Senhor Jesus. Como o texto é a continuação dos argumentos já apresentados pelo apóstolo, a expressão "então, veremos face a face" refere-se a algo já explicado em versículos anteriores. Assim, diante do contexto bíblico, fica evidente que a expressão "então, veremos face a face" refere-se exatamente ao tempo de "quando vier o que é perfeito", já anunciado no versículo 10. Desse modo, fica claro que Paulo tem em mente a época da Segunda Vinda do Senhor Jesus.
Com mais essa informação, agora o
versículo 10 pode ficar assim parafraseado: "Quando Cristo voltar, os
dons que são imperfeitos desaparecerão".
O dia em que os dons vão cessar de fato
Portanto, o ensino escriturístico
inegável afirma que quando Cristo voltar, nós o veremos face a face e o
conheceremos como somos conhecidos, então, nesse tempo e somente nesse tempo
(quando Jesus voltar), é que os dons irão cessar, implicando dessa fornia que
eles continuarão na Era da Igreja enquanto Cristo não voltar.
Os que fazem objeção à
contemporaneidade dos dons argumentam, entre outras coisas, que a expressão
"quando vier o que é perfeito" não significa a Volta de Cristo, mas,
sim, algo como: "quando a Igreja estiver madura" ou "quando as
Escrituras estiverem completas".
Porém, essas interpretações não passam
de conjecturas humanas, que procuram introduzir novos elementos não encontrados
no contexto bíblico (A ideia de Igreja madura ou a da Escritura completa nem
cogitada são no texto). O propósito dessas hipóteses é de substituir o único
elemento descrito no contexto: a volta de Cristo, quando o veremos "face a
face".
Quaisquer dessas ou outras hipóteses em relação à cessação dos dons antes da Volta de Cristo sucumbem no versículo 12, em que Paulo indica que os crentes verão Deus "face a face" e que isso ocorrerá "quando vier o que é perfeito". Assim, nenhuma outra interpretação é admissível a respeito de quando os dons serão substituídos, a não ser o Retorno de Cristo.
João Calvino (1509-1564), em sua obra "1Coríntios", afirmou: "É estupidez as pessoas aplicarem toda essa discussão ao período intermediário".
Acima de Calvino, temos o texto em apreço e o entendimento apostólico já no primeiro capítulo de 1Coríntios, quando Paulo enfatiza que os dons foram concedidos à Igreja de modo contínuo, no período que compreende a ascensão e a Volta de Cristo: "De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo" (l Co 1.7).
Lamentavelmente, apesar de todas as
evidências do texto bíblico, diversos intérpretes a serviço dos dogmas de sua
denominação não se rendem plenamente à autoridade das Escrituras e prestam um
desserviço ao Reino de Deus negando a contemporaneidade dos dons espirituais.
Aos contradizentes, vale lembrar que a interpretação correra das Escrituras deve ser desprovida de conjecturas humanas, suposições filosóficas, preconceitos pessoais, dogmas ou tradições da igreja.
Por: Pr. Douglas Roberto A.
Fonte: Jornal Mensageiro da Paz, janeiro de 2011