O nosso estudo de hoje está baseado em Efésios 1.15 ao 23, onde vemos que Paulo ora[1] para que Deus permita que sua igreja compreenda quatro coisas a seu respeito.
(1) Sobre sua pessoa (1.15-17): "Para que Deus... vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele".(2) Sobre sua promessa (1.18): "Para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança".
(3) Sobre seu poder (1.19-20a): "E qual a suprema grandeza do seu poder... que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos".
(4) Sobre sua posição (1.20b-23).
a) A posição de Cristo nos céus (1.20b-21): Ele ocupa o lugar exaltado à destra do próprio Pai.
b) Á posição de Cristo na terra (1.22-23): Ele foi designado cabeça da igreja.[2]
TOME NOTA
Nas orações que Paulo fez na prisão (Ef 1.15-23; 3.14-21; Fp 1.9-11; Cl 1.9-12), encontramos as bênçãos que desejava que seus convertidos desfrutassem. Em nenhuma dessas orações, ele pede coisas materiais. Sua ênfase é sobre a percepção espiritual e sobre o verdadeiro caráter cristão. Não pede que Deus lhes dê aquilo que não têm, mas sim que Deus lhes revele o que já possuem (Warren W. Wiersbe).
I. OBJETIVOS DA ILUMINAÇÃO ESPIRITUAL DO CRENTE EM JESUS.
Efésios 1.18: “tendo iluminados os olhos do vosso entendimento...” (ARC)
Os olhos do vosso entendimento, refere-se “a faculdade de receber conhecimento – o espirito do homem (1 Co 2.11). O que o olho é para o corpo, o espírito é para o homem interior”.
É através desses olhos que conhecemos:
1 A esperança de seu chamado (Ef 1.18).
2 As riquezas da glória (Ef 1.18).
3 A grandeza de seu poder (Ef 1.19).[3]
Alguns manuscritos dizem "os olhos de seu coração". É necessário lembrar que, na linguagem bíblica, o coração (no grego kardias) não é apenas o centro das emoções, nem apenas o centro do intelecto ou compreensão, mas o centro de toda personalidade, “o homem interior em sua inteireza”.
O homem interior, ou seja, “o coração, possui faculdades espirituais paralelas aos sentidos do corpo. Pode ver (Sl 119.18; Jo 3.3), ouvir (Mt 13.9; Hb 5.11), provar (SI 34.8; 1 Pe 2.3), cheirar (Fp 4.18; 2 Co 2.14) e tocar (At 17.2 7). Era a isso que Jesus se referia quando disse do povo: "vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem" (Mt 13.13). A incapacidade de ver e compreender as coisas espirituais não deve ser atribuída à inteligência, mas sim ao coração. Os olhos do coração devem ser abertos pelo Espírito de Deus” (Warren W. Wiersbe).
1. A iluminação espiritual do crente (Ef 1.18- ARC).
ILUMINAÇÃO - [Do lat. iluminationem, ato de iluminar] Obra sobrenatural do Espírito Santo sobre a mente humana, tornando-a suscetível à compreensão dos mistérios divinos. A iluminação é processada, primacialmente, quando se lê e se ouve a exposição da Palavra de Deus.[4]
O saudoso Pastor e comentarista Warren W. Wiersbe, observa que:
“O ser humano não é capaz de compreender as coisas de Deus contando apenas com sua mente natural. Precisa que o Espírito o ilumine (1 Co 2.9-16). O Espírito Santo revela a verdade da Palavra e, então, nos dá a sabedoria para compreendê-la e aplicá-la. Também nos concede o poder - a capacitação – para colocar a verdade em prática (Ef 3.14-21)”.
O apóstolo Paulo deixa claro quais deveriam ser os objetivos da iluminação espiritual dos crentes em Jesus.
Vejamos:
Tendo “iluminados”[5] os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos e qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder(Ef 1.18,19 - ARC[6])”.
2. Saber a esperança da sua vocação (Ef 1.18 - ARC).
Paulo intercede para que o Espírito Santo ilumine os crentes a fim de saberem “qual seja a esperança da vocação” em outras palavras, para que fossem capazes de experimentar e conhecer profunda e espiritualmente os privilégios de serem vocacionados. Essa esperança e essa chamada têm uma dimensão passada, presente e futura e está centrada em Cristo:
a) Deus chamou a Igreja no passado (ver 2 Tm 1.9). Essa chamada foi iniciativa de Deus e deu-se a partir da eleição da qual fazemos parte (Ef 1.3-14).
Paulo não se cansava de testemunhar que Deus o havia chamado "pela sua graça" (Gl 1.15); e lembrou a Timóteo que o cristão possui uma "santa vocação [chamado]" (2 Tm 1.9). Fomos [chamados] das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9).
b) A chamada abrange serviço e santificação no presente (Fp 3.13,14). Inclui ser irrepreensível, viver em comunhão e andar de modo digno (1.4; 2.11-18; 4.1).
c) A participação gloriosa no futuro (Ef 5.27), que compreende a vida eterna e a esperança de conhecer Deus face a face (1 Co 13.12).
O comentarista Warren W. Wiersbe nos alerta para o fato de que:
É importante lembrar sempre que, na Bíblia, o termo esperança não significa "espero que isso aconteça", como uma criança que espera ganhar uma bicicleta no Natal. Esse termo bíblico implica "certeza quanto ao futuro". O cristão espera, evidentemente, pela volta de Jesus Cristo para buscar sua Igreja (1 Ts 4.13-18; 1 Jo 3.1-3). A esperança referente a nosso chamado deve ser uma força dinâmica em nossa vida, estimulando-nos a ser puros (1 Jo 2.28 – 3.3), obedientes (Hb 13.17) e fiéis (Lc 12.42-48). O fato de que, um dia, veremos Cristo e seremos como ele deve nos motivar a viver como Cristo hoje.
TOME NOTA
O “espírito de” sabedoria e de revelação (Ef 1.17; Cl 1.9). Algumas vezes nas epístolas a palavra espírito se refere ao espírito humano (4.23; Rm 1.9; 2 Co 7.13), ou pode se referir a uma qualidade de mente ou de alma que um homem pode receber ou demonstrar numa atitude ou talento especial. De maneira que 1 Coríntios 4.21 e Gálatas 6.1 falam respectivamente de “espírito de mansidão” e “espírito de brandura”, e 2 Coríntios 4.13 de “espírito de fé” (Francis Foulkes).
Revelação diz respeito à comunicação de conhecimento; sabedoria diz respeito ao uso adequado do conhecimento na nossa vida.
3. As riquezas da glória da sua herança (Ef 1.18 - ARC).
A expressão “sua herança” enfatiza tudo o que está prometido e assegurado por Deus aos seus eleitos (Cl 1.12). Alguns comentaristas sugerem que se refere à herança que Deus possui entre o seu povo, mas o texto correlato em Colossenses 1.12 (“dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz”) sinaliza outra interpretação; ou seja, a herança de Deus refere-se àquilo que Ele planejou conceder aos fiéis.
Dois tipos de heranças:
a) Heranças que que já desfrutamos - a herança abrange as muitas “riquezas da glória”. Refere-se, então, às maravilhosas bênçãos que acompanham o plano da salvação. Aquelas que já usufruímos, tais como o perdão, a adoção de filhos, o selo do Espírito Santo.
b) Heranças futuras - ao dissertar acerca de nossa herança celestial, ou seja (as que serão desfrutadas no porvir - Cl 1.27; 1 Pe 1.4-5), Pedro, fala de “uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus” (1 Pe 1.4). A nossa herança futura está muito além de nossa capacidade de imaginar e ainda sobrepuja nossas maiores expectativas.
4. Qual a sobre-excelente grandeza do seu poder Ef 1.19 - ARC).
A palavra “sobre-excelente” é tradução do grego uperballõ, que, na forma adjetivada, significa “supremacia ou extraordinário” (2 Co 4.7).
Ø Motivos pelos quais precisamos do poder de Deus:
ü Em primeiro lugar, somos fracos demais por natureza para dar o devido valor e nos apropriarmos dessas riquezas, a fim de usá-las corretamente. "O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26.41). Entregar essa riqueza espiritual imensa a um simples ser humano, vivendo com sabedoria e força humanas, seria como entregar uma bomba atômica a uma criança de 2 anos de idade. O poder de Deus capacita-nos para que usemos as riquezas de Deus.
ü O segundo motivo pelo qual precisamos do poder de Deus. Há inimigos que desejam tomar essas riquezas de nós (Ef 1.21; 6.11, 12). Jamais seríamos capazes de derrotar esses adversários espirituais com as próprias forças, mas é possível fazê-lo pelo poder do Espírito. Paulo tem como objetivo conscientizar-nos da grandeza do poder de Deus, de modo que não falhemos no uso de nossas riquezas e que não sejamos privados delas pelo inimigo.[7]
Paulo salientou três exemplos do poder de Deus:
(1) Ele ressuscitou Cristo dos mortos;
(2) Ele colocou Cristo à sua direita nos céus; e
(3) Ele está acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio. Cristo não tem igual ou rival. Ele é superior a todos os outros seres. Estas palavras devem encorajar os crentes, porque, quanto mais alta a honra de Cristo, que é a Cabeça, mais alta a honra de seu povo.[8]
Nenhum dos propósitos de Deus pode ser impedido, pois Ele pode todas as coisas, tudo que desejar. O Eterno tem o controle sobre tudo que existe ou que pode existir.
“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido (Jó 42.2)”.
“AQUELE que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará (Sl 91.1).
O próprio Deus deixa bem claro para nós que Ele é Todo Poderoso.
“... apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso... (Gn 17.1)”.
Davi, o segundo Reio de Israel, teve por diversas vezes experiência com o poder de Deus. E Davi declara:
“Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus (Sl 62.11)”.
Ezequiel, o profeta, afirmou que Deus é Todo Poderoso (Ez 10.5).
A fim de termos uma leve noção do poder do Eterno, vejamos três perguntas retoricas que enfatizam o poder Divino.
Ø “Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR?” (Gn 18.14)
Ø “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43.13)
Ø “Eis que eu sou o SENHOR, o Deus de toda a carne; acaso haveria alguma coisa demasiado difícil para mim?” (Jr 32.27)
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II. A EXALTAÇÃO DE CRISTO (Ef 1.20-23).
O pastor e comentarista Elianai Cabral nos apresenta, com base em Efésios 1.20-23, informações relevantes acerca da exaltação de nosso Senhor Jesus Cristo, vejamos.[9]
Nos versos 20-23 temos a exaltação de Cristo sobre todas as coisas.
"Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o à sua direita nos céus" (v. 20). Esse versículo é a continuação do 19. Ele mostra que o mesmo poder que tirou a Jesus Cristo do túmulo, ressuscitando-o dentre os mortos, é o poder que levanta um pecador da morte espiritual e o coloca numa nova posição de comunhão com Deus (Rm 8.11). O mesmo poder que abriu o mar Vermelho para que Israel passasse a seco (Êx 14.15-26) ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Agora esse mesmo poder está à nossa disposição, pois podemos usá-lo em nossa experiência diária.
1. Cristo acima de todos os poderes espirituais — v. 21.
"Acima de todo o principado, e poder, e potestade e domínio". Esse trecho do verso 21 indica a supremacia do poder de Deus sobre todas as forças espirituais. As designações "principado, poder, potestade e domínio" falam de camadas angelicais puras, isto é, que servem a Deus, bem como das camadas angelicais caídas (anjos caídos), os quais, tanto no céu como na terra, e debaixo da terra, estão sob o poder de Deus (Fp 2.9-11; Cl 1.16-20). Todas essas forças estão sujeitas ao poder de Cristo, pois a Ele foi dado esse poder e autoridade (Mt 28.18; Ap 1.1,17,18).
2. Cristo acima de todo nome — v. 21.
"... e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro". Mais uma vez o poder implica a autoridade maior e um nome maior (Fp 2.9), que lhe foi dado acima de todo nome. As palavras "neste século e no vindouro" mostram que o seu poder tem ação presente, isto é, no tempo e na eternidade.
3. Cristo acima de todas as coisas — v. 22.
"E sujeitou todas as coisas a seus pés". Tudo o que se move está sob o controle de Cristo. O próprio Pai colocou tudo sob seu domínio (Sl 8.7;1 Co 15.27). A expressão mostra que Cristo foi elevado a uma posição de poder absoluto. Sua autoridade, além de absoluta, é universal.
4. Cristo como cabeça da Igreja — v. 22.
"... e sobre todas as coisas o constituiu cabeça da igreja". Sua autoridade é absoluta em relação à Igreja. Cristo, o cabeça da Igreja, e não o papa da igreja romana, é quem ocupa essa posição. O corpo da Igreja não está separado da cabeça. É a cabeça que comanda o corpo e seus membros em particular.
5. Cristo como o Senhor do seu corpo, a Igreja — v. 23.
"... que é o seu corpo". O poder é administrado por Cristo em favor da Igreja, que é o seu corpo. Cada crente, devidamente ligado a esse corpo, recebe as bênçãos desse poder. E a união vital e espiritual com Cristo que nos torna poderosos na vida cristã. A complementação do verso diz: "... a plenitude daquele que cumpre tudo em todos".
A plenitude de Cristo representa toda a sua vida atuando sobre todo o seu corpo. Cada crente (membro do corpo) é dinamizado por essa plenitude que envolve toda a Igreja (todo o corpo). A Igreja é a plenitude de Cristo, porém, é Cristo quem a enche e a torna plena com a sua glória e a sua presença. No capítulo 4.13 de Efésios, o crente é convidado a crescer espiritualmente até que chegue "à medida da estatura completa de Cristo". Em outras traduções, a expressão aparece assim: "até que cheguem à estatura da sua plenitude".
6. Cristo, a plenitude do seu corpo, a Igreja — v. 23.
"... que cumpre tudo em todos". Nada do seu corpo fica fora do seu alcance. Cada membro, mesmo os aparentemente mais insignificantes, recebe poder da mesma fonte que os demais. Esse versículo mostra que Ele é fiel e "cumpre tudo". Os que estão unidos a Ele por sua vida na Igreja podem ter a segurança de que receberão seu poder.
✍ Autor: Evangelista Jair Alves
⚠ Divulgação: Uikisearch
[1]Ef 1.16 – Paulo era verdadeiramente um guerreiro da oração - lembrando-se das igrejas em suas orações pessoais: por exemplo, os romanos (Rm 1.9), os filipenses (Fp 1.3,4), os colossenses (Cl 1.3,4), e os tessalonicenses (1 Ts 1.2,3).
[2]Willmington, Harold L. A Bíblia em Esboços. [Tradução: Eros Pasquini Júnior] — São Paulo, SP: Editora Hagnos, 2001.
[3] DAKE, FINIS JENNINGS. Bíblia de Estudo Dake. Editoras: CPAD e ATOS
[4]Andrade, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico.../Claudionor Corrêa de Andrade. 9ª ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2000
[5]Ef 1.18 – Iluminados, no grego photizo, significa esclarecer, tonar evidente, dar entendimento, fazer brilhar (Dicionário Grego Strong).
[6]ARC – Ou seja, Bíblia na Versão Almeida Revista Corrigida.
[7]WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: volume II; traduzido por Susana E. Klassen. - Santo André, SP. Geográfica editora, 2006.
[8]Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal, Vol. 2 – CPAD.
[9]CABRAL, Elienai. Comentário Bíblico: Efésios. 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1999.